O Direito é uma província da política – e não o contrário. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 1 de maio de 2020 às 10:00
O relator do inquérito que investiga ofensas contra magistrados da Suprema Corte, ministro Alexandre de Moraes — Foto: Rosinei Coutinho/STF

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POR LUIS FELIPE MIGUEL

Tenho aprendido sempre bastante com Pedro Estevam Serrano.

Mas a entrevista que a Folha publica hoje me parece muito problemática.

Alexandre de Moraes extrapolou ao sustar a nomeação de Ramagem para a PF? Provavelmente.

Mas não dá pra falar em “repercussão muito negativa no funcionamento do Estado constitucional de Direito”. Ou que “você está restringindo a soberania popular e a autonomia do Poder Executivo”. Ou, mais ainda, que é preciso “entender que estamos numa democracia”.

É um formalismo jurídico que nos leva a um mundo de faz de conta.

O “Estado constitucional de Direito” já foi para as cucuias no Brasil há muito tempo. Dos escombros dele, o que devemos lutar para preservar é o poder de Bolsonaro para nomear um cupincha para a PF?

A soberania popular, sempre limitada no nosso modelo de democracia de baixa voltagem, foi ferida de morte com o golpe que derrubou uma presidente eleita de forma legítima e de novo com a proibição fraudulenta à candidatura de Lula.

Estamos numa democracia? A resposta, infelizmente, é “não”, mesmo adotando o conceito menos exigente de democracia. Eu diria que estamos sob um regime híbrido, entre uma democracia liberal que agoniza e um autoritarismo que paulatinamente se impõe.

Basta olhar, aliás, para as dramatis personæ: Bolsonaro pai e filhos, Moro, Alexandre de Moraes, Ramagem. A república está nas mãos dessa gente. Tem como isso ser normal?

É preciso mais do que conhecer a letra da lei ou os meandros da Constituição. É preciso sensibilidade ao processo histórico, aos embates sociais, aos conflitos de poder, começando pela luta de classes.

O direito é uma província da política – e não o contrário.