O disco do meu amigo. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 22 de novembro de 2015 às 11:00
Roger
Roger (foto de Otávio Dias)

 

Primeiro e mais importante, um esclarecimento (full disclosure, como eles dizem lá): o cantor sobre o qual escrevo é meu amigo e parceiro musical de longa data.

Roger Rogério e eu tivemos uma banda durante 275 anos, junto com Marcelo e Ado, guitarristas, e Otávio, baterista. Acabou em 1937 e ele é o único de nós que continua tocando profissionalmente.

Dito isto, “Ranga ranga” é uma coleção de 13 canções que Roger W reuniu num lançamento da gravadora YB. Chega às lojas esta semana. O nome vem de um termo que o pai dele, Paulo Alves de Lima, usava para se referir ao barulho que Roger fazia tentando tocar violão quando pequeno.

É um trabalho com um toque de nostalgia. A foto de Paulo ilustra o encarte. A letra de “Um Domingo Florido de Abril” menciona “livros que ele escondia num lençol” (Paulo era professor de física da Universidade de Brasília e foi preso após o golpe por “atividades subversivas”).

A nostalgia, porém, passa longe da sonoridade. Os rapazes que acompanham Roger — Pipo Pegoraro (guitarra), Gustavo Ruiz (guitarra), Bruno Bertoni (baixo) e Beto Gibbs (bateria) — fazem um pop rock moderno, com o toque especial do hammond de Roni “Boy” Carvalho. Ruiz produziu o disco da irmã, Tulipa Ruiz, que ganhou o Grammy Latino de 2015 na categoria artista revelação.

Três mulheres têm participações especiais: Lulina, nome conhecido da nova cena paulistana, com seu sotaque pernambucano marcante, em “A Vida é Curta”; Silvia Tape em “Perfume de Gim”, que também conta com o violão de doze cordas de Edgard Scandurra; e Virginie, vocalista do Metrô, musa dos anos 80, em “Na Beira do Mar”.

Não é o único fantasma dessa época. Kiko Zambianchi é co-autor do reggae mexicano “Despedida”. Há ainda uma versão cabeça — e eventualmente dispensável — de “Eu e as flores”, de Nelson Cavaquinho, uma das prediletas do pai de Roger. O arranjo cria uma atmosfera que transporta o ouvinte para um lugar que provavelmente não estava nos planos de Nelson.

“Ranga ranga” pode ser encontrado nas melhores casas do ramo (iTunes; Rdio; Deezer e Spotify). Gostaria de dizer “eu recomendo”, mas é estranho.

Eu sou suspeito. Eu amo o cara. Faça o seguinte: esqueça o que escrevi, dê uma escutada e veja se te agrada.