O documentário sobre Dorina Nowill, cega que deu dignidade aos cegos, é uma lição ao Brasil de hoje

Atualizado em 1 de julho de 2016 às 15:12

Braile

 

Num momento tão sombrio no Brasil, onde o mundo se espanta com as vísceras expostas de nossa política, tenho muita alegria e orgulho de poder escrever de um personagem tão corajoso e lúcido como Dorina Nowill.

Cega aos 17 anos por causa de uma infecção que deteriorou numa hemorragia, ela criou meios próprios para terminar seus estudos de forma pioneira no tradicional Colégio Caetano de Campos, em São Paulo (não existiam cursos para cegos no país).

Uma desbravadora em terras onde a cegueira seria a condenação eterna às trevas, onde o deficiente visual era tido como peso morto no mercado de trabalho e  no meio intelectual. Estamos falando da metade do século passado.

A HBO está passando “Dorina – Olhar para o Mundo”, o primeiro documentário brasileiro com audiodescrição. Produzido pela Girafa Filmes, Dezenove Som e Imagem e Mil Folhas, ele também será disponibilizado na plataforma HBO GO.

O filme mostra a luta e empenho de uma mulher diferenciada em múltiplos aspectos. Criou mecanismos para inclusão social dos deficientes visuais no Brasil e adotados no exterior. Mudou a acessibilidade de cegos que se encontravam à deriva em um mar de preconceitos e ignorância. Foi artífice da chegada da linguagem braille e de inúmeras ferramentas.

Em 1946, criou a Fundação para o Livro do Cego no Brasil e foi a responsável por trazer a primeira impressora braile. Naquele mesmo ano, conseguiu uma bolsa de estudos nos Estados Unidos para se especializar em educação de cegos. Nesta viagem conheceu o marido Alexander Nowill, com quem teve 5 filhos.

Costurou acordos nas mais diferentes frentes políticas para viabilizar seus projetos, pois sua bandeira estava acima de dogmas e cartilhas, seu objetivo estava em fornecer possibilidades aos seres humanos desprovidos de visão.

Mesclando arquivos familiares, depoimentos de filhos, netos, assistentes pessoais e inserções de trechos de entrevistas à TV, filmes históricos e referências diversas. Os funcionários da fundação que leva seu nome há mais de 70 anos explicam os métodos. Tudo isso costurado por entrevistas feitas por sua neta Martha Nowill,  idealizadora do projeto.

Dorina era uma mulher muito positiva e vibrante, divertida em suas entrevistas e que se tornou um exemplo a mirar, especialmente no Brasil de hoje.