Esta matéria faz parte de um projeto de crowdfunding do DCM sobre a Lista de Furnas.
No ano de 2001, ao emergir do subterrâneo da política, Nilton Antônio Monteiro entregou ao Ministério Público e a um deputado do Espírito Santo documentos que revelavam o envolvimento da mineradora Samarco no pagamento de propina a autoridades do estado, à época governado pelo tucano José Ignácio Ferreira. Alguns meses depois, alguns políticos estavam presos e secretários foram demitidos.
Em 2005, Nilton Monteiro entregou a políticos do PT e à Polícia Federal recibos de depósitos, procurações e uma lista com nomes de políticos mineiros que receberam em 1998 dinheiro desviado do governo de Eduardo Azeredo através do publicitário Marcos Valério, no esquema que ficou conhecido como Mensalão de Minas Gerais.
Demorou dez anos para sair a primeira condenação no caso do Mensalão de Minas Gerais. O ex-governador Eduardo Azeredo foi condenado a 20 anos e 10 meses de prisão. Foi uma decisão de primeira instância, ainda sujeita a recursos, mas na sentença chama a atenção o número de vezes em que Nilton Monteiro é citado: 66 vezes, numa sentença que tem 125 páginas.
Nilton Monteiro é também o autor da denúncia da Lista de Furnas e a pergunta que sobressai da leitura do texto que condena Azeredo é: se Nilton Monteiro acertou quando denunciou o esquema de propina no Espírito Santo e teve suas revelações confirmadas pela sentença do Mensalão de Minas Gerais, por que a Procuradoria Geral da República ainda não investigou os políticos que integram a Lista de Furnas?
No início da semana passada, eu fiz esta pergunta à assessoria de imprensa da Procuradoria Geral da República, em Brasília, que me pediu para formalizar o questionamento via e-mail. Foi o que fiz, e até agora não recebi resposta.
Também procurei a assessoria do senador Aécio Neves, em razão do protagonismo dele na Lista de Furnas, seja por indicar pessoas que deveriam receber recursos, inclusive sua irmã, Andrea, seja por ser apontado como padrinho político do diretor de Engenharia, Planejamento e Construção de Furnas, Dimas Toledo, que a lista revela como o mentor do esquema de corrupção.
“Não posso. Tem pressão do Aécio, tem pressão do Aécio”, teria dito em 2004 o então ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, quando o deputado delator do Mensalão de Brasília Roberto Jéfferson, presidente do PTB, cobrou a indicação de um apadrinhado seu para o posto de Dimas Toledo. A assessoria prometeu enviar uma nota do senador, que é presidente do PSDB, ou me colocar em contato com ele, mas não fez nem uma coisa nem outra.
Lendo a sentença da juíza que condenou Azeredo, Marisa Pinheiro Costa Lage, o que se vê é o esforço da defesa do ex-presidente Azeredo em desqualificar o denunciante Nilton Monteiro. O próprio Azeredo, ao ser interrogado no ano de 2011, diz:
“É inacreditável que uma figura dessas seja levada em consideração. Quando eu vejo, aí, fatos novos que acontecem no dia a dia, hoje, eu me lembro muito disso. Eu estou vendo aí, hoje mesmo, nesses episódios de hoje, uma coisa parecida: falsificação de assinatura, cartório, coisa parecida com o que aconteceu comigo”, disse Azeredo.
Os “episódios de hoje” a que Eduardo Azeredo se refere são os desdobramentos da denúncia da Lista de Furnas. Naquele ano, a imprensa repercutia a investigação da Polícia Civil de Minas Gerais, estado à época governado pelo aliado de Aécio Neves, Antônio Anastasia, que apontou Nilton Monteiro como chefe de uma quadrilha de falsários.
A juíza que condenou Azeredo cita também o trecho de um depoimento prestado no Senado por Cláudio Mourão, tesoureiro da campanha de Azeredo. A então senadora Ideli Salvatti pergunta se Mourão ameaçou Nilton com a expressão “vou te pegar, acabar com a sua vida e vou te arrebentar.” Mourão responde: “Pode ter sido. Já passou a raiva. Falei com ele na hora, mas o que ele merece é isso.”
A sentença menciona ainda o episódio em que um carro de Nilton foi incendiado, fato já revelado nesta série de reportagens. Ao falar sobre Nilton Monteiro, a juíza lembra que não existem condenações contra ele e, ainda que houvesse, “qualquer pessoa pode ser testemunha, dando-se ao seu depoimento o valor devido, devendo ser consideradas suas declarações desde que sejam corroboradas pelas demais provas dos autos.”
E, no caso das denúncias de Nilton Monteiro, provas não faltaram. “É necessário que seja dada credibilidade às declarações de Nilton Monteiro, haja vista que diversas de suas afirmações foram confirmadas pelas testemunhas, como Marcos Valério, que o recebeu em seu escritório, para tratar de assuntos relacionados à campanha tucana em Minas Gerais.”, escreveu a juíza.
A magistrada lembra também que Nilton Monteiro apresentou documentos, como a procuração que Cláudio Mourão entregou a ele, para cobrar dívida de campanha junto a Azeredo e recibos de depósitos, além de anotações de Walfrido dos Mares Guia, vice-governador de Azeredo, com o “resumo da movimentação financeira ocorrido no ano de 1998”.
Tudo confirmado por perícia ou pelo próprio autor das anotações. Denise Landim, amiga de Cláudio Mourão, deu um depoimento que revela a proximidade de Nilton Monteiro com o grupo de políticos tucanos. Ele esteve em sua casa, levado por Cláudio Mourão, para tratar do investimento em uma ilha de Cabo Frio, Rio de Janeiro.
Na semana passada, eu fui para Bauru, no interior do Estado, para levantar informações sobre uma das empresas que se destacam na Lista de Furnas como doadora de recursos de caixa 2 para os políticos. Para testar a credibilidade de Nilton Monteiro, tirei foto da casa onde o dono da Bauruense, Airton Daré, morou, uma mansão que ocupa um quarteirão inteiro, e enviei por mensagem a Nilton Monteiro.
Você conhece esta casa? Perguntei. “É a casa do Daré, em Bauru.” Você já esteve aqui? “Muitas vezes” Fazendo o quê? “Pegando malas de dinheiro, para entregar a políticos que o Dimas indicava.” Por conta própria, Nilton acrescentou: “E eu viajei muito no avião dele, com um pau mandado do Daré, o Carlos Braga, que era genro dele”.
O genro e o avião faziam parte das minhas anotações, citados em entrevistas que fiz com pessoas que conviveram com Daré, mas eu não havia comentado nada com Nilton Monteiro. Daré morreu no dia 19 de junho de 2011, mas a empresa que fundou continua ativa e muitos dos diretores que o auxiliaram nos negócios da empresa continuam no mercado. Alguns até dão entrevista, sob a condição de anonimato.
Comecei a levantar informações sobre a Bauruense depois que o doleiro Alberto Youssef contou, em delação premiada na Operação Lava Jato, que a empresa repassava mensalmente propina a dois deputados federais, José Janene, do PP, para quem ele trabalhava, e Aécio Neves, do PSDB, ambos da base de sustentação política do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Youssef diz que o dono da Bauruense repassava pelo menos 100 mil dólares por mês (390 mil reais pelo câmbio atual) a Janene e uma quantia não especificada para Aécio Neves. O vídeo com o trecho dessa delação foi vazado e se encontra disponível na internet.
Nesse vídeo, Janene, de camiseta cinza de mangas curtas, demonstra muita tranquilidade e, com as mãos sempre cruzadas, pressionando e afastando os dedos, conta como soube do envolvimento de Aécio no esquema.
O dono da Bauruense, ao discutir valores de propina com José Janene, na presença de Youssef, dizia que não podia aumentar a quantia porque “ainda tem a parte do PSDB”. Youssef era o operador de Janene e o procurador pergunta quem era o operador do PSDB.
“Sei por ouvir dizer que era a irmã do Aécio”, afirma. No vídeo, ouve-se o procurador dizer que tinha uma foto de Andrea Neves e fazer menção de mostrá-la a Youssef, que diz não poder reconhecer. “Estamos falando de coisa de vinte anos atrás”, diz. O procurador insiste se ele teve contato com Andrea, e Youssef diz: “Não.”
O que Youssef demonstra não ter dúvida era sobre a divisão da diretoria de Furnas: “Ele (Janene) dividia essa diretoria com o então deputado Aécio Neves”. O procurador pergunta se a propina entregue à irmã de Aécio era em espécie, assim como para ele: “Acredito que sim”.
Dinheiro em espécie existia na casa de Airton Daré. “O Daré era um homem muito discreto e muito inteligente”, conta Nilton. Ele esteve na casa de Daré em Bauru, levado de avião particular, para recolher mala. Diz que foi lá em nome do Dimas Toledo, então diretor de Construção, Engenharia e Planejamento de Furnas.
No mesmo endereço, à rua José Salmen, número 28 da quadra 4 (os números em Bauru são diferentes, contados por quadra) os vizinhos se recordam de que, em 2006, entraram policiais federais, para uma operação de busca e apreensão.
“Os homens estavam armados e com colete preto, com Polícia Federal escrito”, recorda um vizinho. “Igual a essas cenas que a gente na televisão”, acrescenta. Só que, ao contrário dos tempos da Operação lava Jato, a apreensão na casa de Daré não passou na televisão. Os policiais estiveram nesta casa, na sede da empresa e no apartamento do dono da Bauruense, no condomínio Mônaco, na Vila Universitária.
Os policiais encontraram no apartamento mais de 1 milhão de reais em espécie e cerca de 350 mil dólares, também em espécie. Em sua defesa, Daré disse que era dinheiro para pagar funcionários de suas fazendas, mas não conseguiu provar o saque das contas.
Entre 2000 e 2005, a Bauruense recebeu cerca de meio bilhão de reais por serviços prestados a Furnas. A Corregedoria Geral da União, criada em 2003, investigou os contratos da Bauruense e, segundo a procuradora da república Andréia Bayão, encontrou indícios da existência dos crimes de corrupção passiva, peculato e de fraude a licitação, “antecedentes aos de lavagem de dinheiro”.
Entre os fatos suspeitos citados, está o superfaturamento de preços, o pagamento por reajustes e vantagens que caberiam exclusivamente à empresa e até a contratação pela Bauruense de um irmão do funcionário responsável pelas licitações da estatal.
A procuradora diz ter encontrado nos relatórios da CGU e também do Tribunal de Contas da União “evidências de que Furnas estava inserida dentro de um esquema criminoso voltado para obtenção de vantagens ilegais em benefício de funcionários públicos e políticos”.
Daré é apontado pela procuradora Andrea Bayão como beneficiário do “esquema criminoso” e, para sustentar a acusação, a procuradora solicitou à Receita Federal um estudo sobre a evolução patrimonial dele, a partir da quebra do sigilo fiscal. Em 2002, Daré declarou bens e direitos no valor aproximado de 35 milhões de reais. Em 2006, seu patrimônio declarado era de R$ 58 milhões.
“Sua evolução patrimonial ou é superior aos seus rendimentos ou fica no limite dos seus rendimentos, o que lhe impediria de fazer quaisquer outros gastos com moradia, lazer, consumo”, escreveu a procuradora na denúncia à Justiça, em que pede a condenação de onze pessoas, entre elas o diretor de Furnas Dimas Toledo e o empresário Daré.
Daré e Dimas Toledo são dois lados da mesma moeda, cada um de um lado do balcão, mas unidos por negócios em estatais, que só a corrupção política pode proporcionar. Dimas começou a trabalhar em Furnas no ano de 1968, logo depois de se formar em Engenharia pela Faculdade de Itajubá, Minas Gerais, o mesmo ano em que Daré fundou a Baruense, para prestar serviços em Ilha Solteira, inaugurando um longo e duradouro relacionamento com a estatal paulista de energia CESP.
Daré também era formado em Engenharia pela Universidade de Londrina, só que no ramo florestal, o que lhe permitiu fazer negócios de reflorestamento no Estado do Mato Grosso antes de entrar no setor de energia.
Segundo o inquérito da Polícia Federal, Dimas, quando ausente, era chamado de Gordo pelos empresários que prestavam serviços em Furnas. Daré também tinha muitos quilos além do peso ideal. Ambos investiram em imóveis. Dimas é dono de uma fazenda na Serra da Bocaina, Minas Gerais, seu Estado Natal, e comprou muitos imóveis em Resende, no interior do Rio de Janeiro.
Segundo pessoas que trabalharam com ele em Bauru, Daré adquiriu mais de 150 imóveis urbanos e comprou algumas fazendas, entre elas uma às margens do rio Tietê, onde criou uma espécie de clube de campo para seus mais de mil funcionários. No local, todo fim de ano, realizava uma grande festa de confraternização.
“Ninguém saía sem presente da festa”, conta um ex-diretor do grupo. E eram presentes caros, de televisores a carros. Mas a forma como ele realizava o sorteio revela como conduzia seus negócios. “Os ganhadores dos carros eram escolhidos antes. Todos os nomes estavam no saco, menos aqueles que ganhariam os carros. Estes estavam na mão do próprio Daré. Ele colocava a mão no saco, mexia, mas não pegava nenhum papel. Ele já estava com ele na mão”, diz.
Ninguém percebia e, se percebesse, havia motivos para não ligar. Daré era um homem de hábitos simples e generoso, não só com empregados. Quando o genro, Carlos Braga, quis ser deputado estadual, em 1998, pelo PP de Paulo Maluf, Daré bancou a campanha, ao custo de quase 70 reais o voto.
Era conhecido o patrocínio que dava às campanhas do vereador Paulo Madureira, embora não tivesse negócios significativos com a administração pública do município. Não que ele não quisesse. Chegou a comprar 28 caçambas, na expectativa de assumir a coleta de lixo na cidade, mas teve que destinar a frota a outro município onde já prestava o serviço, Campinas.
Apaixonado por esporte desde seu tempo de pessoa simples em Pederneiras, onde nasceu e ajudava o futebol amador, bancava o time do Parquinho, de Bauru, e financiava uma escola de samba.
Tentou fazer do filho, que também se chama Airton, uma estrela da Fórmula Indy, mas Darezinho não chegou a obter grandes resultados, embora patrocínio não lhe faltasse, inclusive um do Banestado, o banco público do Paraná, que protagonizou na época das privatizações de Fernando Henrique Cardoso um dos maiores escândalos de evasão de divisas do Brasil.
Os vizinhos de sua casa da rua José Salmen, Jardim Estoril, lembram que ele dava grandes festas, inclusive uma com a dupla sertaneja César e Paulinho. Perto desta casa, ele comprou na planta quatro apartamentos de um andar inteiro, no edifício Marselha, o metro quadrado mais caro de Bauru. Lá moram seu filho, o Darezinho, e a ex-mulher Cláudia. A Bauruense tem cinco aviões, sendo um deles o jato Citation.
Na década de 90, comprou uma rádio Auri Verde, de Bauru. Mas a emissora foi parar em suas mãos por caminhos, digamos assim, tortuosos. O prefeito de Bauru era Antonio Tidei de Lima, e a rádio Auri Verde, AM de grande audiência nas classes populares, o apoiava. Mas ainda não pertencia a Daré.
Em troca do apoio, conseguiu dinheiro da prefeitura para reformar todo o prédio. Um locutor lembra que, para driblar a restrição da lei eleitoral, a rádio noticia que haveria evento em determinado lugar. No encerramento do boletim, o locutor informava: “Tidei a dica.”
O relacionamento entre Tidei de Lima e o dono da rádio, azedou e as verbas deixaram de ir para a rádio, que ameaçou fazer oposição. Para evitar desgaste político e a perda de popularidade, o prefeito telefonou para amigos no Palácio dos Bandeirantes, onde o chefe era Luiz Antônio Fleury Filho, também do PMDB.
Tidei pediu ajuda, a solução encontrada foi propor a Daré comprar a rádio. “Uma pessoa ligada ao governador ligou para o Daré e disse que ele deveria comprar a rádio”, conta. Daré teria dito: “Mas eu não entendo nada de rádio e por que vou gastar dinheiro comprando a rádio?” O governo viabilizou a compra, autorizando Daré a interromper o pagamento de propinas a três autoridades do Estado, incluindo um dirigente da CESP.
Na rádio, era proibido dizer o nome de Daré. Quando Daré bateu um carro, a caminho do aeroporto, a rádio ignorou o fato, e funcionários da Bauruense pressionaram os jornais a não dar a notícia. A informação foi publicada no Jornal da Cidade, o maior de Bauru, mas sem nenhum destaque, como queria Daré.
Quando ele morreu, em 2011, um executivo da empresa telefonou e disse que não era para noticiar a morte. A ordem não foi acatada, em razão da relevância da notícia. “Todo mundo em Bauru sabia que ele era o dono da rádio. Como é que não íamos dar?”
No aspecto pessoal, assumia ser mulherengo. Certa vez, na companhia do genro em um avião, telefonou para um amigo e disse que queria vê-lo em seu escritório, em Bauru.
O amigo foi até lá e ele o recebeu na companhia de uma mulher muito bonita e bem mais nova do que ele. Daré pediu que o amigo aguardasse na antessala. Pouco depois, ele voltou, sozinho, com uma revista Playboy na mão, e mostrou a capa, dizendo, baixinho: “É ela”. O amigo viu que a mulher que lhe fora apresentada minutos antes era a mesma da capa da revista.
As pessoas com quem conversei fazem relatos com detalhes, como do dia em que um deles foi até o Café Photo, conhecido prostíbulo de luso em São Paulo, para entregar a um intermediário mala de dinheiro. “Parecia filme do 007”, afirma.
A orgia de malas e contratos fraudulentos que uniu a Bauruense de Daré a Furnas de Dimas Toledo, sob a proteção de um esquema político, é muito bem contada na investigação da Procuradoria da República no Rio e confirmada sem muita dificuldade com o levantamento de informações em Bauru. Mas esta é uma pequena parte da história.
Eu procurei a Bauruense e fui orientado a enviar as perguntar por e-mail ao diretor jurídico, Rinaldo. Foi o que fiz, na terça-feira, dia 22 de dezembro e até agora não recebi resposta.
Além da Bauruense, há outras empresas envolvidas no esquema de Furnas e uma penca de consultorias de fachada que celebravam contratos milionários com os prestadores de serviços da estatal apenas com o objetivo de desviar dinheiro para as malas da corrupção.
O ex-superintendente administrativo da Toshiba do Brasil, José Antonio Csapo Talavera, contou à Polícia Federal que a multinacional utilizava “notas frias, retratando serviços de consultorias inexistentes por empresas de fachada com a finalidade de esquentar recursos não declarados pela Toshiba ao Fisco.”
Talavera ouviu de um colega da Toshiba, Dieickson Barbosa, superintendente técnico comercial, que a usina termelétrica que a Toshiba construiria para Furnas em 2001, em um contrato obtido sem licitação, já trazia embutido em seu preço o valor da propina que seria paga a políticos que controlavam Furnas.
Detalhe importante: contratos como estes foram assinados sem licitação em razão de uma medida provisória editada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que alegava o risco de apagão para acelerar a contratação de empresas, sem a necessidade de concorrência pública.
Com o depoimento recente de Alberto Youssef, envolvendo Aécio Neves no esquema de corrupção de Furnas, a Polícia Federal consultou o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, para saber se não seria o caso de abrir inquérito.
O procurador, única autoridade com poderes para investigar um senador da República, entendeu que não era o caso, em razão da dificuldade de levar adiante a apuração, já que o deputado José Janene e o dono da Bauruense estão mortos.
Minha apuração em Bauru, com a localização de testemunhas que conheceram os negócios de Daré por dentro, e a simples leitura da denúncia da procuradora Andrea Bayão, com os nomes e os fatos que levam à conclusão de que houve um grande esquema de corrupção em Furnas, mostram que compor este quebra-cabeças não é uma tarefa difícil. A primeira prova já está pronta. É a Lista de Furnas, com a assinatura autêntica de Dimas Toledo, o Gordo.