O empenho histérico de Eunício em tentar calar as senadoras diz tudo sobre a reforma trabalhista. Por Donato

Atualizado em 12 de julho de 2017 às 8:40
Eunício e as senadoras na votação da reforma trabalhista

 

Que não se pense ter ocorrido um resquício de demonstração de força de Michel Temer na aprovação da reforma trabalhista ontem.

Mesmo sem ele – já com a corda no pescoço – o empresariado continua muito bem representado, defendido mesmo, por Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidente do Senado. Ele próprio um empresário bem sucedido e interessado nas reformas que pretendem arrancar o couro já gasto do trabalhador.

Eunício Oliveira é dono de uma holding (a Remmo Participações), que detém firmas que prestam serviços de limpeza, vigilância e transporte de valores para empresas e órgãos estatais como Banco do Brasil, Caixa, Ministério da Saúde, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e o Banco Central. Só com os bancos, os contratos passam dos $703 milhões e estarão em vigor até 2019.

Ou seja, Eunício Oliveira possui empresas cuja mão-de-obra é uma das que mais irá sofrer as consequências da reforma. Os tais ‘acordos’ que irão prevalecer sobre a CLT em temas como jornada de trabalho, intervalo para almoço ou ainda a temida modalidade ‘trabalho intermitente’, atingirão em cheio a vida de trabalhadores das categorias que estão na folha de pagamento do senador.

Por isso Eunício Oliveira deu chilique, cortou a luz, o microfone, e saiu dizendo que ‘nem na ditadura tinha acontecido algo parecido’, quando senadoras da oposição ocuparam a Mesa Diretora para impedir a votação da reforma. Seu interesse nunca foi o de que a votação ocorresse e sim de garantir a aprovação da reforma trabalhista. Daí seu empenho.

Fazendo negócios sobretudo com o governo federal, Eunício Oliveira teve seu patrimônio aumentado em 169%. Segundo sua declaração de bens de 2014 ele é proprietário de 88 fazendas. Oitenta e oito! Alguém ter 88 fazendas diz tudo sobre Eunício, mas principalmente sobre o Brasil.

Eunício também não passa ileso pela Lava jato. Já foi citado pelo menos duas vezes como recebedor de propina. Recebeu R$ 1 milhão da Odebrecht (segundo o executivo Cláudio Melo Filho) para aprovação de medida provisória que tratava de incentivos tributários.

Em outra delação, do ex-diretor da Hypermarcas, Nelson Mello, o senador teria recebido mais R$ 5 milhões através de contratos fictícios.

Resumindo, na luta contra a perda dos direitos, retirar Temer nem muda muita coisa. É menos que tirar um bode da sala. Ainda tem Maia, Eunício…

Mas se o empresariado pode contar com o aplicado senador cearense, a população deveria aplaudir a atitude das senadoras ontem.

Ao contrário do que saíram vociferando os governistas, elas mostraram-se combatentes e não ‘avessas ao diálogo’. Afinal, democracia é quando os políticos representam o povo e não o 1% mais rico.

E elas representaram pois a imensa maioria é contra a reforma. Ela só atende a uma camada minúscula da sociedade, composta por pessoas que têm um patrimônio obsceno, conquistado por meios espúrios.

Então, leitor, caso seja do seu interesse não se tornar escravo, esteja em sintonia com os dias atuais e lute como uma mulher. Porque passou, mas dá para derrubar, não dá? A avenida Paulista, a Candelária e a Esplanada estão logo ali. Cadê suas panelas?