O enorme papel da sorte na Copa do Mundo

Atualizado em 13 de julho de 2014 às 21:32
O gol do título
O gol do título

Ladies & Gentlemen:

Pelas suas características, a Copa do Mundo é um torneio definido pelos “e se”. Isso quer dizer o seguinte: a sorte conta muito, quase tanto quanto o futebol em si.

A Copa é muito mais dependente do acaso do que torneios em que todos se enfrentam.

Vejamos dois exemplos:

1)            E se a bola de Messi tivesse entrado no começo da prorrogação?

2)           E se Neymar não tivesse sido atropelado pelo colombiano?

Exploremos o primeiro “se”. Se Messi tivesse feito o gol, a Argentina teria muito provavelmente sido campeã.

Todos os louvores ao planejamento alemão rapidamente desapareceriam. Diriam o seguinte: “Tanto esforço para, mais uma vez, perder. Na hora decisiva eles tremem. Eles têm é que aprender a ter caráter.”

Mas a bola de Messi – justo ele – não entrou.

Vamos agora ao outro “se”. Vistas as coisas retrospectivamente, está claro que o Brasil acabou com a contusão de Neymar. O time se tornou um defunto coletivo em campo. (Nota da tradutora: decesead group.)

Neymar é aquele tipo de jogador raro que dá confiança a seus companheiros e, ao mesmo tempo, perturba os adversários.

Com ele em campo, a partida contra a Alemanha seria outra. Poderia vencer. O colapso mental que acometeu o onze brasileiro estava diretamente conectado à contusão de Neymar.

Os demais jogadores perderam o norte, o sul, o leste e o oeste. O que se viu, no Mineirão, foi um simulacro, uma paródia de um jogo. A seleção brasileira simplesmente se ausentou da disputa por não ter Neymar.

Uma bola que entre ou que não entre muda toda a história de uma Copa. E todas as teses feitas caso a bola entre vão para o lixo caso ela, caprichosamente, não entre.

A sorte conta muito, mas ela é quase que totalmente subestimada pelos comentaristas de futebol.

Napoleão procurava generais que tivessem sorte. Os técnicos das seleções talvez devessem buscar jogadores sortudos, em suas convocações. Bons e sortudos, naturalmente.

Sem sorte, a verdade é esta, nenhum time ganha uma Copa. Abro uma possível exceção para o Brasil de 1970, o maior time que já apareceu.

Mas estamos falando de regras, e não de exceção.

Agora mesmo: a Alemanha é, mais que nunca, com o título, uma referência mundial em planejamento, com seu conhecido e admirado trabalho nas categorias de base.

Mas sem sorte a Alemanha estaria agora contando mais uma Copa sem vitória. Para que o triunfo se transformasse em fracasso, bastava que a bola de Messi tivesse entrado.

Sincerely.

Scott

Tradução: Erika Kazumi Nakamura

Compartilhar
Artigo anteriorPelé pediu que os alemães jogassem um pouquinho menos, mas não foi ouvido
Próximo artigoO enorme papel da sorte na Copa do Mundo
Aos 53 anos, o jornalista inglês Scott Moore passou toda a sua vida adulta amargurado com o jejum do Manchester City, seu amado time, na Premier League. Para piorar o ressentimento, ele ainda precisou assistir ao rival United conquistando 12 títulos neste período de seca. Revigorado com a vitória dos Blues nesta temporada, depois de 44 anos na fila, Scott voltou a acreditar no futebol e agora traz sua paixão às páginas do Diário.