Inspirada na americana “Sex and The City”, a série “Sexo e As Negas” conta as aventuras de quatro amigas negras. Retrata os negros de forma estereotipada. As manifestações de repúdio foram tantas que a Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Social) chegou a abrir uma investigação das denúncias de racismo no programa.
Para o deputado Jean Wyllys, porém, as críticas de alguns milhares de internautas e de um séquito formidável de blogueiros e articulistas não têm fundamento. “As pessoas foram pouco generosas com Miguel Falabella, que é um cara que está longe, muito longe de ser racista”, disse.
Ele defende um amigo e tem todo o direito de dizer que Falabella não é racista. Provavelmente ele não seja, mas o programa que escreveu está longe de ser motivo de orgulho para telespectadores negros e negras.
“Sexo e a as Negas” se propõe a colocar negras como protagonistas, mas não consegue escapar da vocação da Rede Globo de associá-las à pobreza, baixa qualificação e sexualidade exacerbada. O racismo aparece no próprio nome, que remete ao passado colonial onde senhores usufruíam livremente dos corpos das suas escravas.
É estranho que Wyllys não tenha visto nada de errado na série. “O programa não tem nada a ver com as críticas que foram levantadas em relação a ele. Miguel Falabella denuncia o racismo”, afirma no vídeo em que defende o programa.
Uma das cenas mostra uma personagem, empregada doméstica, cedendo aos avanços sexuais do patrão branco. Haveria denúncia de racismo na cena se a questão fosse aprofundada, problematizada. Em momento algum isso ocorre. Os episódios de racismo são tratados superficialmente, diferentemente das cenas de sexo, que abusam da imagem da “mulata fogosa” e disposta a sexo em qualquer esquina. É essa a “nova representação dos negros na TV”?
De nova essa representação não tem nada.
Para a romancista moçambicana Paulina Chiziane, a imagem do Brasil transmitida pelas novelas é de um país branco. “Nas telenovelas, que são as responsáveis por definir a imagem que temos do Brasil, só vemos negros como carregadores ou como empregados domésticos. No topo estão os brancos. Esta é a imagem que o Brasil está vendendo ao mundo”, disse a escritora para a Agência Brasil.
“De tanto ver nas novelas o branco mandando e o negro varrendo e carregando, o moçambicano passa a ver tal situação como aparentemente normal”, completa Chiziane.
Se do outro lado do Atlântico é possível perceber que as telenovelas retratam os negros de forma distorcida, por que Wyllys não consegue perceber a quantidade de estereótipos racistas que o seriado carrega?
No post do Facebook onde rebate as críticas que está sofrendo por ter defendido o programa, Jean Wyllys disse que não falou em nome dos outros ao expressar sua opinião, e sim como a pessoa que ele é: gay, nordestino nascido e criado na periferia da Bahia, na extrema pobreza, amante das novelas e seriados, jornalista, escritor, professor de teoria da comunicação, ativista, militante de esquerda, deputado.
Mas pela inconsistência da defesa de “Sexo e as Negas”, quem aparece naquele vídeo foi o Jean Wyllys ex-big brother.