O esforço da Folha em melhorar a situação de Temer e piorar a de Lula no último DataFolha. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 17 de julho de 2016 às 9:48
No Nordeste, trabalhando, já em campanha
No Nordeste, trabalhando, já em campanha

É notável o contorcionismo da Folha para artificialmente piorar os resultados de Lula e Dilma no último Datafolha e melhorar os de Temer.

É uma manobra clássica de engana-trouxas. Escrevi trouxas porque é assim que a Folha parece tratar seus leitores.

Comecemos por Dilma e Temer.

O título do texto que mede o atual governo é: 50% dos brasileiros querem Temer no lugar de Dilma.

Ora, ora, ora.

E os demais 50%? O título poderia ser: “Metade dos brasileiros não quer Temer”. Ou, num esforço de imparcialidade: “O Brasil dividido entre a permanência ou não de Temer”.

Você tem que ter cuidado ao ler mesmo pesquisas na mídia. Os números são dispostos de forma a atender aos interesses dos donos, e os textos que os acompanham vão na mesma linha.

Por exemplo: o artigo sobre o tema acima trazia também a avaliação de Temer. É um número tétrico para Temer: apenas 14% acham seu governo bom ou ótimo.

A Folha escondeu isso no meio do texto. E ainda colocou o seguinte: era o mesmo resultado de Dilma em sua última avaliação como presidente.

Mas um momento.

Dilma vinha de um massacre cotidiano da imprensa, da oposição parlamentar liderada por Aécio e Cunha, da Lava Jato, de Moro — enfim, de todas as forças reacionárias e golpistas.

Temer não: é protegido pela mídia, e preservado por Moro e pela Lava Jato. Mais que tudo: ele está no governo há pouco tempo, o que faz toda a diferença.

O padrão é: altas avaliações populares no início das administrações e baixas avaliações no final. Temer conseguiu inverter o padrão consagrado. É rejeitado desde o ponto zero.

Nada dessas ponderações a Folha fez. Mas o fato é que os 14% de aprovação enfraquecem substancialmente Temer. Numa palavra, ele não pegou. Não decolou. E nem vai melhorar: o tempo só piora as avaliações aos olhos da sociedade.

O mesmo esforço da Folha para transformar dados se viu em relação a Lula.

O extraordinário é: com toda a pancadaria que vem levando, Lula aparece na liderança isolada nas intenções de votos em todos os cenários.

Outros dados notáveis: Aécio perdeu metade das intenções em menos de um ano. De 27% apurados em dezembro de 2015, caiu para 14% agora.

Todos os líderes tucanos perderam consideravelmente terreno, o que mostra o desgaste que lhes vem custando a campanha golpista frenética. Os eleitores moderados do PSDB já perderam a paciência com a guinada à direita do partido.

Mas como a Folha apresenta o desempenho de Lula? Com um “mas”, para desqualificar um desempenho impressionante. “Mas” no segundo turno — e lá vem. Não chegamos perto sequer do primeiro turno, e é no segundo que a Folha lança luzes para fingir que Lula não é o destaque absoluto deste último DataFolha.

Faz-se barulho também com a rejeição de Lula: 46%. Mas atenção: no último DataFolha ela era de 57%. Isso quer dizer: mesmo com toda a perseguição da mídia e de Moro a rejeição de Lula baixou 11 pontos percentuais. Ou quase 20%.

O que deve acontecer, caso Lula seja candidato, quando ele falar nos programas eleitorais e quando jornais e revistas tiverem que publicar não apenas acusações, como é hoje?

Não é difícil imaginar.

Mas a mídia parece viver num universo paralelo. Neste final de semana, ao mesmo tempo em que o DataFolha dava a ascensão de Lula, a Veja fazia uma reportagem especial que trazia uma ficção extremamente ao gosto da revista. Nela, Lula estaria abatido, sem força política, num terrível ocaso.

Ora, ora, ora.

O leitor inocente da Veja não conseguirá entender como alguém tão por baixo aparece em primeiro no DataFolha. E repito: sob ataque incessante.

Ao mesmo tempo em que a Folha e a Veja armavam seus textos sobre o cenário político, Lula estava no Nordeste falando com gente, misturado ao povo, como gosta, em plena campanha.

É assim que ele desde já é o franco favorito para 2018 — quer a Folha e a Veja, para não falar da Globo, queiram.