Publicado originalmente no perfil de Facebook do autor
POR PABLO ORTELLADO, pesquisador
Um relato da região serrana do RS. Até ontem, as estradas estavam cheias de barreiras de caminhoneiros — elas deixavam passar os automóveis, mas barravam qualquer caminhão. Junto com os caminhões, muitos tratores, mostrando a adesão dos pequenos produtores rurais da região.
Nos bloqueios, faixas e mais faixas pedindo intervenção militar. Um caminhoneiro, muito ativo na mobilização, nos explicou assim a paralisação: “Não dá pra fraquejar. A hora agora é de radicalizar, para tirar o Temer e todos esses corruptos e baixar o preço dos combustíveis. A gente precisa de intervenção militar para fazer eleição direta (sic).”
A população não parece se incomodar com a falta de combustível e os outros inconvenientes dos bloqueios. Com quem quer que conversemos, todo mundo apoia os caminhoneiros. Hoje, o cenário mudou.
Às 15 horas, houve manifestações nos quartéis em apoio à intervenção militar em várias cidadezinhas. As barreiras de caminhoneiros tiveram a adesão da população e já estamos no quinto bloqueio cidadão. As famílias da cidade se reúnem pelos grupos de Facebook e bloqueiam as estradas por 30 minutos, depois liberam e depois de 30 minutos bloqueiam outra vez.
Entre Caxias do Sul e São Leopoldo, passamos por cinco bloqueios deste tipo. Entre os bloqueios, dezenas de pessoas caminhando nas estradas para se somar às mobilizações. É muito presente o discurso da intervenção militar.
Faz pensar no que aconteceu no Egito, no apelo às forças armadas para derrubar Mubarak e reestabelecer a democracia — e também nos terríveis desdobramentos, nas eleições cheias de instabilidade e no golpe de Estado. Tem algo de muito bonito na mobilização cidadã de base — e tem algo de muito assustador no apelo aos militares.
O espectro do Egito nos ronda.