O espírito de rebeldia e a eleição de Porto Alegre. Por Jeferson Miola

Atualizado em 13 de janeiro de 2024 às 17:49

Ato em Porto Alegre. Foto: Reprodução

Por Jeferson Miola

derrota do cabresto e do coronelismo das construtoras e do governo Melo-bolsonarista na eleição para integrantes da Região1 do Conselho de Desenvolvimento Urbano e Ambiental [CMDUA] de Porto Alegre foi um acontecimento político muito relevante. E, sobretudo, alentador.

O alento político deriva não somente da vitória democrática e popular em si, que adquiriu uma dimensão heróica nas condições em que se deu, mas principalmente pela dinâmica militante que levou a tal vitória.

Esta votação mostrou a força de uma rebeldia ativa, resistente e aguerrida em Porto Alegre. Uma força que se insurge contra o gangsterismo político, a privatização da cidade e a lógica ultraliberal e reacionária que agrava as injustiças e a exclusão social com devastação ambiental.

Um sentimento rebelde e radicalmente democrático, progressista, de esquerda, irresignado, antineoliberal, anticapitalista, humanista, socialista, feminista, antirracista …

Uma força-movimento de configuração transgeracional, que abarca jovens-jovens, jovens-maduros, adultos jovens, adultos maduros, septuagenários, octogenários …

Uma força-movimento auto-convocada. Um ativismo auto-organizado e articulado não só nas redes sociais, mas principalmente nas redes de sociabilidade política, associativa, afetiva, laboral, cultural; ou seja, no mundo real de afetos, encontros, resistências e re-existências.

O comparecimento recorde de eleitores/as foi a reação cidadã surgida em resposta à estratégia dos “donos da cidade”. Não se verificou envolvimento partidário na mobilização.

Uma iniciativa articulada espontaneamente como reação indignada ao objetivo do poder econômico de controlar o CMDAU para moldar o Plano Diretor ao propósito de transformar Porto Alegre num deserto de cimento.

CMDUA de Porto Alegre. Foto: Divulgação

Um bom número dos/as votantes que elegeram o advogado Felisberto Seabra Luisi para o Conselho e derrotaram a vanguarda do atraso não possuem militância partidária. Vários, especialmente de idades maiores, até são filiados a partidos.

Mas um contingente significativo desses/as votantes não milita partidariamente e tampouco tem filiação partidária. Nem por isso, no entanto, são refratários, hostis ou mesmo indiferentes aos partidos políticos, em especial em relação ao PSOL, PT, PCdoB.

Pelo contrário: têm consciência sobre a necessidade e a importância de se fortalecer e se ampliar a representação desses partidos nos governos e nos legislativos.

As identidades desse “microcosmo político” de esquerda com lideranças e figuras públicas são diversas e plurais.

Foi possível se observar e se escutar, contudo, um magnetismo dessas militâncias e desses ativismos por referências como Manuela D’Ávila e Matheus Gomes. “Eles representam esse espírito de rebeldia e de combate”, diziam muitos/as votantes enquanto resistiam de pé, com fome e sem água até seis horas nas caóticas filas de votação.

É preciso se evitar uma dissonância entre as decisões das “nomenklaturas” partidárias e esse ativismo progressista e combativo que expressa uma poderosa e real dinâmica social na capital gaúcha.

É difícil compreender, neste sentido, por que tanto Manuela D’Ávila/Federação PT/PcdoB/PV como Matheus Gomes/Federação PSOL/REDE não fazem parte das equações da esquerda para a definição da chapa que enfrentará a coalizão ultraliberal e reacionária na eleição de outubro próximo para a Prefeitura.

Há tempo suficiente para se operacionalizar um processo de escolha de uma chapa eleitoral potente, que melhor encarne esse espírito rebelde e de luta e que forneça as melhores chances para se derrotar a extrema-direita da cidade e do RS em todas suas versões – fascista, não-fascista, lavajatista e bolsonarista.

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