Um fenômeno curioso aconteceu com milhares de coxas, de diferentes matizes e graus de falta de noção, com relação ao protesto neonazista ocorrido em Charlottesville e à vitória de Donald Trump.
Quando Donald foi eleito, muitos lamentaram profundamente o sucedido nos Estados Unidos. “Esse cara representa uma direita quase mongol”, disse uma contraparente que marcou presença em todos as manifestações na Paulista.
Trump, segundo ela e amigos que desfilaram ao lado de cavalheiros como Marcello Reis, dos Revoltados Online, é xenófobo, reacionário, extremista, machista, fascista e antidemocrático.
A mídia seguiu a mesma batuta. Os comentaristas da GloboNews estavam chocados na noite da eleição americana.
Renata Lo Prete chegou a apontar que Hillary Clinton foi atrapalhada, veja só, pelo machismo. Sim, o mesmo argumento utilizado por Dilma e devidamente ridicularizado, mas o que é ruim para Hillary não é ruim para o Brasil.
O Globo publicou um editorial acusando “retrocesso”. Quem elegeu o empresário foi “o americano branco, de média ou baixa qualificação”. Esse sujeito foi “convencido por Trump de que o inimigo são os outros: países, estrangeiros etc”.
Segundo o Estadão, “quanto mais Trump era atacado por suas diatribes racistas, misóginas e contra os imigrantes, mais seus eleitores pareciam convencidos de que o magnata era mesmo quem dizia ser”.
Ora, as milícias que tomaram as ruas pedindo o impeachment eram feitas do quê? De intelectuais gentis? Aquelas senhoras segurando cartazes perguntando “por que não mataram todos em 64” eram o quê?
E os milhares de cidadãos de bem gritando que “a nossa bandeira jamais será vermelha” junto a torturadores homenageados em carros de som?
Trump foi acusado, por esse seres superiores, de se vender como apolítico. Ele é um milionário, ex-apresentador de reality show movido a um marketing poderoso. Ok. E João Doria?
As “diatribes” trumpistas são deploráveis, de acordo com o mesmo jornal que chama petistas de “matilha” e “tigrada”.
Ele “despreza profundamente a democracia”. E Aécio Neves, Gilmar Mendes, José Serra, entre outros que, minutos depois de derrotados no pleito presidencial de 2014, estavam pregando o impeachment? E o vice Michel que conspirava abertamente? Estes são amantes da democracia?
Esse caldo vai dar no quê? No Churchill? Ou no Bolsonaro?
No bojo dessa esquizofrenia patética está embutida uma sensação de que nossa régua é diferente, nossos padrões são próprios e ninguém tasca. São nossas jabuticabas. Nosso excepcionalismo brasileiro moleque.
No nível doméstico, é o casal que ama pegar o metrô em Nova York, toma ônibus de dois andares em Londres, se acaba de andar de bicicleta em Amsterdã, invade os outlets de Orlando fazendo algazarra — e, por aqui, xinga ciclistas de maconheiros comunistas, reclama das faixas que “roubam espaço” do carro e odeia os pretos que entram no shopping.
Depois de toda a pilantragem institucional e do lixo que foi destampado, é espantoso que a família tradicional brasileira não reconheça em Trump e seus extremistas o parentesco de primeiro grau.