Em outubro do ano passado, durante manifestações de professores cariocas, o festival de agressões por parte da polícia culminou em um post / meme engraçadinho de Tiago Tiroteio numa rede social: “Foi mal, fessor”.
Tiago Tiroteio fazia chacota com o fato de professores da rede pública terem sido espancados com cassetetes, spray de pimenta, bombas de gás lacrimogênio em ações repressoras na Cinelândia, na Secretaria da Educação e na Câmara por vários dias. As cenas eram revoltantes.
Tiago Tiroteio era soldado da Polícia Militar do Rio. Era. Mesmo depois da manifestação pública de completo desrespeito e arrogância, Tiago Tiroteio foi promovido. Hoje é cabo da PM.
A corporação confirma a promoção ressaltando que a promoção se deu por tempo de serviço e que no dia de hoje (14/05), será publicada uma punição de 20 dias de prisão pelo comentário “infeliz”.
Tiago Tiroteio utilizou novamente a rede social para comemorar a promoção: “É amigos para todos que lutaram minha luta e permaneceram ao meu lado esta ae a prova. E aos que pediram a minha exclusão esta ae a prova de quando caímos, caímos para cima!!! CABO DA POLICIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO”.
Mesmo com o anúncio da prisão (e excluindo o contrasenso de uma promoção associada a uma penalidade), não há como deixar de resgatar o tema desmilitarização. A postura de “onipotente”, de “autoridade”, de “intocável” e demais arrogâncias que vemos em infinitos exemplos como o já clássico “Fiz por que quis” proferido pelo capitão Bruno do Batalhão de Choque de Brasília, é fruto da escola militar da qual a sociedade clama por distância.
Uma polícia unificada e de natureza civil é o desejo gritado nas ruas de maneira cada vez mais ruidosa.
Desmilitarizar é ainda tema incompreendido por grande parte da população que acredita que signifique extinção da polícia e de policiamento. Não se trata disso bem como também não se refere a uma mera mudança de nome. Desmilitarizar é criar uma nova polícia, compatível com os valores democráticos, dentro do estipulado pelo estado democrático de direito. E um deles, é o de manifestar-se por melhores salários e planos de carreira, como faziam os professores naquele outubro de 2013.
Sentar a borracha nas costas de quem exerce um direito é uma aberração herdada dos tempos da ditadura.
O decreto que estabeleceu que as polícias fossem “forças auxiliares e reserva do Exército” ocorreu em 1969 (durante os anos de chumbo) e que, infelizmente, a Constituição de 1988 não alterou.
O escárnio com que Tiago Tiroteio tratou a questão pode ser apenas falta de educação, pode ser algum desvio de personalidade? Pode e deixo para graduados em psicologia opinarem. Mas não pode ser tolerado por uma corporação que, em teoria, existe para proteger o cidadão. Que dirá promovê-lo. Tiago Tiroteio é Tiago de Lima Moreira de Souza, agora cabo da PM do Rio. E para ele, professor é “fessor”. Foi mal aê.