Há algo de podre no caso da pichação do Monumento às Bandeiras e do Borba Gato, em São Paulo.
Eles amanheceram coloridos um dia depois de uma troca afável de ideias da dobradinha Doria-Marta no debate da Globo, quando João falou que a cidade “está à beira do abandono, maltratada” e que “a zeladoria é inexistente”.
Olhando para a câmera, arrematou: “Que prazer é esse que você tem de destruir a cidade, destruir o patrimônio público, a propriedade privada, com a condescendência da prefeitura? Comigo na prefeitura isso não vai acontecer. Vamos coibir. Vandalismo tem que ser tratado como polícia”.
A pichação foi amplamente explorado pelos suspeitos de sempre. O Estadão não tirou a matéria da home. Um herdeiro de Victor Brecheret pirou e comparou aquilo que foi limpo em uma hora e meia ao que o Estado Islâmico fez na Síria.
E aí veio o Doria.
Menos de 24 horas depois de aparecer na Globo, ele estava em frente ao “deixa-que-eu-empurro” com o vice Mario Covas Neto de papagaio de pirata, repetindo o número e exibindo sua indignação.
Gravou um vídeo, violando o prazo estabelecido pelo TSE para a propaganda eleitoral, com cara de quem não dormiu direito.
“Estou aqui para dizer para você, que é pichador, que é vândalo, isso vai acabar. Cada um faz o que quiser aqui em São Paulo. Comigo, não”, esbraveja, alterado. A Guarda Civil Metropolitana, assegura ele, vai dar um jeito na coisa.
É impossível, mas vale tudo em sua falácia fascistoide. Pichadores são movidos a desafios desse tipo. Tudo o que querem é um prefeito estúpido e falastrão que os provoque.
Agora: embora eu despreze teorias conspiratórias, tenho de concordar com o eminente jornalista Clayton Netz que todo esse teatro de Doria não orna muito bem, e não apenas pelo oportunismo e pela imitação de Fernando Collor.
Um Borba Gato pintado cai em seu colo para casar com seu discurso da véspera? Assim, de presente? No texto devastador sobre que escreveu sobre o colega de PSDB, Alberto Goldman mencionou as cenas que João Doria “preparava para a TV”.
“Doria visitou o hospital do Campo Limpo e bateu boca com o seu diretor”, conta. “Sem conhecer a realidade e sem quaisquer escrúpulos provocou enorme constrangimento acusando o diretor de desídia, um funcionário público que muitas vezes luta para dar um mínimo de condições de funcionamento a um equipamento médico em uma época em que todos estão submetidos à má gestão do governante e à penúria de recursos.”
Diria a ministra Carmen Lúcia que não existem coincidências, mas incidência concomitantes.
https://www.youtube.com/watch?v=GDFXd6FAzfk