O deputado do Partido Republicano Wesley Goodman se definia nas redes como “cristão, americano, conservador” e citava a mulher, Beth, “uma das principais lideranças antiaborto de Ohio”.
Uma de suas principais bandeiras era o “casamento natural”, aquele entre um homem e uma mulher, como a Bíblia nos ensinou.
Goodman (“homem bom”) era um fervoroso defensor das causas “pró-família” e anti-LGBT e se transformou numa estrela conservadora com discursos virulentos contra a união homoafetiva e a ideologia de gênero.
“Famílias saudáveis, vibrantes, orientadas a valores e que prosperam são a fonte da história orgulhosa de Ohio e a chave para nosso futuro grandioso”, garantia seu site de campanha.
Longe do público, Goodman trocava mensagens cheias de amor para dar com gays que conheceu na Assembleia Legislativa de seu estado e passava cantadas em jovens que encontrava na rua.
No último dia 16, ele renunciou a seu mandato depois que o presidente da Câmara, Cliff Rosenberger, foi alertado para o “comportamento inadequado” de Goodman com outro homem em seu gabinete.
O jornal “Columbus Dispatch” informa que o parlamentar foi surpreendido enquanto fazia sexo com o visitante. Daí em diante foi uma avalanche de gente saindo do armário para contar que conhecia o político biblicamente.
Goodman não teve saída a não ser pedir desculpas a quem se desapontou com sua conduta, pedindo privacidade para começar o “próximo capítulo da vida”.
Não levará muito tempo até que um caso desses ocorra no Brasil com um dos nossos políticos que ganham dinheiro e voto com sua cruzada moralista e a fiscalização da sexualidade alheia.
O que os incomoda tanto nos homossexuais? O que lhes dói tão profundamente?
Um estudo sobre homofobia, publicado em 2012 no respeitado Journal of Personality and Social Psychology — publicação especializada mensal que circula desde 1965 — ajuda a entender o ódio e o medo que gente como Silas Malafaia, Feliciano, Bolsonaro e outros sentem.
Durante meses, 784 universitários dos EUA e da Alemanha foram convidados, primeiro, a avaliar sua orientação sexual de 1 (altamente gay) a 10 (muito hétero).
Na sequencia, se submeteram a um teste. Imagens e palavras associadas à sexualidade lhes foram mostradas. Eles foram então instados a classificá-las de acordo com a categoria apropriada (gay ou hétero) o mais rapidamente possível.
Houve um elemento crítico adicional, como explicou o professor Richard Ryan, idealizador da coisa: “Antes de cada palavra e imagem, a palavra ‘eu’ ou ‘outro’ aparecia na tela do computador por 35 milésimos de segundo — tempo suficiente para os estudantes processarem subliminarmente o dado, mas curto o suficiente para que eles não pudessem vê-lo conscientemente”, escreveu num artigo no New York Times.
“A teoria, conhecida como associação semântica, é que quando ‘eu’ precede palavras ou imagens que refletem sua orientação sexual (por exemplo, imagens heterossexuais para um heterossexual), você as classifica na categoria correta mais velozmente do que quando ‘eu’ vem antes de palavras ou imagens que são incongruentes com a orientação sexual (por exemplo, imagens homossexuais para um heterossexual). Essa técnica distingue de forma confiável indivíduos que se identificam como heterossexuais dos que se definem como gays, lésbicas ou bissexuais.”
Entre o grupo que se disse “altamente hétero”, surgiu uma subseção de cerca de 20% deles que indicaram uma atração pelo mesmo sexo. Esse mesmo pessoal era “significativamente mais propenso a favorecer as políticas anti-gays e a atribuir punições mais severas para autores de pequenos crimes se o autor fosse presumivelmente homossexual”.
Para o doutor Ryan, “nem todos aqueles que fazem campanha contra gays e lésbicas sentem desejo por pessoas do mesmo sexo. Mas ao menos parte deles estão lutando contra si mesmos, tendo sido eles mesmo vítimas de opressão e incompreensão”.
Claro que existe a picaretagem a e falácia para ganhar os corações e mentes. Mas isso é óbvio e não necessita de prova científica. A chave está no que há por trás disso.