O Globo denuncia oportunismo de Moro, mas não faz mea culpa. Por Denise Assis

Atualizado em 20 de outubro de 2022 às 23:57
Sergio Moro e Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Por Denise Assis

Não. Não foi um “mea culpa”. Quem leu o editorial de O Globo de hoje (20/10), dessa forma, o leu com os olhos de quem dormiu com os números do Datafolha martelando na cabeça e a ameaça real de um empate técnico na reta final da campanha presidencial, o que vai requerer de todos, nervos de aço.

Há em cada gota de tinta que compõe o editorial, uma lágrima amarga de ressentimento, uma gota de suor destilado pela raiva.

No subtexto do jornal o que se lê é a pergunta: por que você foi exagerar a tal ponto de nos desnudar em praça pública? Por que você errou na mão, possibilitando estarmos agora diante desta escolha difícil? (Não pelos candidatos que se apresentam, mas por nos obrigar a apertar o 13 na urna, quando poderíamos nem ter o ex-presidente nas opções?).

Não há ali um pingo de remorso pelos editoriais raivosos, pelas manchetes escandalosas, pelas matérias de um lado só, no caderno do noticiário político.

O que há, isto sim, é uma descompostura pública ao juiz. É uma quebra das insígnias do “cavaleiro da Justiça”, posto fora das fileiras, como nas cerimônias militares de expulsão.

Para os mais entusiasmados – a ponto de lerem com condescendência e quase alegria, o texto “da casa” –, eu recomendo uma interpretação atenta deste parágrafo: “(…) municiando o atual presidente com informações contra Lula, especialmente no tema em que ele se mostra mais vulnerável: a corrupção nos governos petistas, fartamente documentada pela Operação Lava-Jato.”

Como assim, “fartamente documentada”? Vão insistir a esta altura do embate, na questão: Lula não é inocente, Lula foi inocentado?

Numa coluna de opinião, ao lado, se escoram na informação de que há uma declaração do ex-ministro Marco Aurélio Mello, de que o processo foi apenas “arquivado”, quando sabemos que foi uma visão pessoal, fora dos autos e com forte dose de ideologia.

Por que, antes de escrever tal disparate, às vésperas de uma eleição de vida ou morte da Democracia, não se debruçam sobre os diálogos trocados por Moro e o seu grupo de “procuradores”? Lá verão que as provas foram forjadas, que os “indícios” foram fabricados de forma parcial e persecutória, apenas para possibilitar levar Lula ao cubículo da Polícia Federal, onde ficou confinado por 580 dias, tirando-o do pleito de 2018.

Outro trecho onde transparece a mágoa contra Moro – não por ter se unido a Bolsonaro, mas por ter rasgado a fantasia de super-herói e deixados expostos os que construíram a sua imagem– é este: “Ao aparecer ao lado de Bolsonaro na campanha eleitoral, ele deixa evidente sua parcialidade nos julgamentos contra Lula, que levou à anulação dos processos contra o ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF).”  Só faltaram emendar: por que você agiu com tamanha imprudência, permitindo que ele fosse solto?

Ou, ainda: “O comportamento oportunista de Moro, porém, contribui para manchar o legado da maior operação contra a corrupção já deflagrada no Brasil”.

O ex-juiz Sergio Moro, agora classificado (com justa razão) de oportunista, caiu em desgraça para as páginas do jornalão, mas é inegável, também, que O Globo ficou nu.

Publicado originalmente no Jornalistas pela Democracia

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