Bolsonaro pode não ter voltado ao normal, como era antes da prisão de Queiroz, mas já deu sinais em sequência de que voltará a atacar a imprensa.
Ontem, o sujeito disse que o coronavírus não o derruba porque ele é forte e foi atleta que até salvou um colega de afogamento. Mas se a Covid-19 pega um jornalista bundão, a chance de sobrevivência é menor do que a dele.
Bolsonaro está entre o que era e o que talvez gostaria de voltar a ser. Só que o Bolsonaro de antes da prisão de Queiroz, no dia 18 de junho, é um personagem improvável.
O Bolsonaro que ameaçava o Supremo. Que participava de atos pró-golpe ao lado dos seus generais. Que anunciava que agora chega. Esse Bolsonaro é uma figura fora de catálogo.
O que sobra é o Bolsonaro agressivo com os jornalistas dos jornalões que o atacam – Folha, Globo e Estadão – porque eles continuam a incomodá-lo. E não dá mais pra brincar de golpe.
O foco dos jornalões não é o governo, é unicamente Bolsonaro. Os jornais não atacam Guedes, nem pensam em criticar os militares, mas insistem em tentar desestabilizar Bolsonaro.
Esse é o recalque de Bolsonaro. A bronca é com ele, só com ele. Mas o jornalismo das corporações, e não os jornalistas, continuam bundões.
A pergunta que quase ressuscitou o velho Bolsonaro, sobre o dinheiro de Queiroz para a primeira-dama, foi feita pelo repórter Daniel Gullino, do Globo.
O Brasil reproduziu a pergunta incômoda de Gullino para Bolsonaro. Calcularam que o assunto rendeu mais de 1 milhão de postagens no Twitter só no domingo.
Políticos reproduziram a pergunta. Chargistas fizeram piadas com a pergunta e a resposta. Jornais estrangeiros publicaram a frase.
No domingo, nenhum outro assunto foi mais debatido do que a intervenção do jornalista que provocou a resposta desaforada de Bolsonaro, com a ameaça de que gostaria de encher a boca do repórter de porrada. A repercussão foi enorme pela força da pergunta.
Mas O Globo ofereceu a Bolsonaro a chance de dizer que os jornalistas são bundões, quando as corporações é que são medrosas.
O jornal não defendeu nem mesmo seu profissional, ao colocar a notícia na capa da versão impressa de segunda-feira em chamada secundária. E sem a pergunta.
O Globo deu de manchete esta notícia, de importância relativa, mas não mais do que acontecera no domingo com seu repórter:
Orçamento do próximo ano não terá bloqueio de recursos.
E esta é a manchete que O Globo não teve coragem de dar:
Presidente, por que sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?
O jornal dos Marinho teve a chance de devolver a agressão de Bolsonaro com jornalismo. Mas O Globo foi bundão, mais uma vez.