Tão incrível quanto a voz negróide, rasgada, de Joe Cocker eram seus espasmos durante os shows. Parecia que ele iria a qualquer momento cair no chão, vítima de um excesso de feeling.
Cocker era um inglês apaixonado pela soul music americana, especialmente Ray Charles, a quem idolatrava. Surgiu na segunda metade dos anos 60. Cantava hits da Motown em pubs. Em 1968, ele e sua Grease Band gravaram “With a Little Help From My Friends”, dos Beatles. Entre os músicos convidados na sessão, estavam Jimmy Page e Steve Winwood.
A versão estourou na Inglaterra e nos EUA, pavimentando seu caminho até Woodstock um ano depois. Sua releitura tornou-se um clássico e Cocker virou uma estrela. Ele era o sujeito que tinha melhorado uma canção dos Beatles, reduzindo o original a uma tentativa bem intencionada. Os Fabs, impressionados, lhe mandaram um telegrama.
Firmou-se como um intérprete extraordinário, abrindo espaço para outros nomes do chamado “soul de olhos azuis”, o blues rock de branco, como Leon Russell e Delaney and Bonnie. O que ele fez com “With a Little Help” repetiria com “Feelin’ Alright”, do Traffic, injetando adrenalina e dando uma outra cara à música.
Nos anos 70, teve tudo para virar um superstar, mas mergulhou nas drogas e na bebida a ponto de quase perder tudo. Uma grande turnê, com 34 músicos, foi prejudicada por sua dificuldade em lembrar das letras estando alcoolizada. Foi preso na Austrália com maconha. Também passou a usar heroína. “Não havia rehab naqueles dias. Estava tudo disponível e eu caí de cabeça”, disse.
No auge do vício teve um dos maiores hits de sua carreira: “You Are So Beautiful”, de Billy Preston, que se tornaria famosa no Brasil como trilha de um comercial. Depois ainda cantaria o tema do filme “9 e Meia Semanas de Amor”, o hino do strip tease “You Can Leave Your Hat On”.
Conseguiu se limpar nos últimos 20 anos, depois de conhecer a mulher americana, Pam. Quando não estava tocando, descansava os ossos num rancho no Colorado, onde tinha uma lanchonete chamada “Mad Dog Café’, homenagem a um de seus sucessos (“Mad Dogs and Englishmen”).
Joe Cocker morreu de câncer no pulmão aos 70 anos. As décadas de abuso cobraram a conta. Deixa 40 discos e uma marca na história do rock que não será apagada nem por sua miríade de seguidores.