O iluminismo de Barroso é poesia vencida: o Brasil precisa ter homens valentes. Por Moisés Mendes

Atualizado em 10 de maio de 2020 às 9:23
Barroso

Publicado originalmente no blog do autor

O ministro Luís Roberto Barroso disse em entrevista ontem ao Globo que o Brasil precisa de um choque de iluminismo. É bonito, sempre aparece alguém com essa ideia do iluminismo.

Mas imaginem os 13 milhões de brasileiros que não têm nem CPF e/ou carteira de identidade (e que por isso não conseguem pegar os R$ 600) ouvindo essa frase.

Se eles pelo menos vivessem na Idade Média, quando até faziam churrascos, banquetes e orgias em meio a pestes, desconfiariam que mais à frente alguma coisa iria acontecer.

Hoje, sabem que não irá acontecer nada ou que as chances de que aconteçam são quase nulas. O Brasil não precisa de pensadores com sacadas para sair do pântano. Precisa de homens valentes.

Os otimistas da turma de Barroso são incapazes de reagir à invasão do Supremo por uma horda de empresários acompanhados por Bolsonaro e militares.

Sim, quem invadiu o Supremo na quinta-feira foi um grupo de 15 empresários. Bolsonaro apenas pegou carona. Bolsonaro seria incapaz de imaginar a invasão do Supremo.

O máximo que Bolsonaro consegue imaginar é um churrasco no dia em que o Brasil ultrapassa a marca dos 10 mil mortos pela pandemia.

Os empresários, os militares, Paulo Guedes e seus parceiros tiveram a ideia de pressionar o Supremo. Em muitas republiquetas, das quais a elite brasileira debocha, eles sairiam presos por afronta a um poder.

Homens que carregam nas costas meio PIB da indústria, segundo cálculos exagerados do próprio Planalto, invadiram a mais alta Corte do país, submeteram o presidente da Corte às suas pautas e foram embora com Bolsonaro.

Os empresários e Paulo Guedes usaram Bolsonaro como laranja. Foi bom para eles e para os Bolsonaros, que precisam fragilizar o STF e tentar salvar a família.

E Barroso fica vislumbrando o iluminismo. É uma ideia literária demais, poética, mas que não quer dizer nada em meio às trevas do século 21. É apenas uma tese vencida para encher uma entrevista.

A realidade, que não será alterada por ideias (todas já manjadas), mas por ações políticas, é Bolsonaro passeando de jet ski no lago Paranoá enquanto a morte evança. Mas Barroso quer divagar.

SEMANA CHEIA

Bolsonaro terá de inventar alguma coisa para desviar a atenção do roteiro da semana. É coisa pesada, tudo envolvendo o inquérito aberto para investigar as acusações de Sergio Moro.

Na segunda e na terça serão ouvidos seis delegados, entre os quais Alexandre Ramagem, o amigo dos garotos (que não assumiu porque Alexandre de Moraes não deixou), e Mauricio Valeixo, o que pediu para sair por pressão de Bolsonaro.

Também na terça serão ouvidos três ministros militares, mesmo que sem farda (só Ramos continua fardado): Braga Netto (Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

Todos serão ouvidos no Palácio do Planalto. Ainda na terça, a Polícia Federal ouve a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), a que tentou negociar a substituição do delegado da PF com uma vaga para Moro no Supremo.

Bolsonaro terá de inventar algum rolo no cercado do Alvorada, ou um churrasco na casa de Onyx Lorenzoni.