Por Fernando Brito no blog Tijolaço.
A Folha, afinal, reproduziu a informação, publicada aqui, de que Luciano Huck recebeu um financiamento, a 3% ao ano, para a compra de seu jato particular (o nome é esse, sem rodeios) através do BNDES.
Fez com o devido crédito ao Tijolaço, embora, diferente do que se faz aqui, quando a notícia é da Folha, sem o link para a informação original.
É a matéria mais lida do site do jornal, mas o título original – “Huck usou empréstimo de R$ 17,7 mi do BNDES para comprar jatinho” -foi substituído, na capa, por “Empresa de Huck emprestou R$ 17,7 mi do BNDES para comprar avião”.
Emprestou?
Pau que dá em Chico pode acariciar Francisco, como se vê. Ou, pra usar o slogan daquela rádio: ” em 20 minutos tudo pode mudar”
Mas isto é assunto para aulas de jornalismo comparado que, lamentavelmente, se tornaram assunto de primeira linha.
As “defesas” de Huck centram-se em dois pontos: não é ilegal e foi concedido durante o governo Dilma Rousseff.
Ambas passam longe do questionamento essencial: o ético. Porque, desde a notícia postada ontem, não se acusa o apresentador de qualquer ilegalidade, mas pela imoralidade de ter usado uma linha de fomento a atividade empresarial para financiar um veículo particular – como o meu carro ou o seu, com uma “cobertura” empresarial.
Meu Ford Fiesta 1.0 não está no nome do Blog Tijolaço Comunicação e não é, portanto, despesa operacional para efeitos fiscais. Não creio que um Phenom 500, de dez lugares, o deva ser.
Se a empresa Lils , do ex-presidente Lula. tivesse comprado os famosos pedalinhos, isso poderia ser legal, mas seria escandaloso.
Com Huck, não é.
Ou os outros jornais, menos pudicos que a Folha, estariam reproduzindo agora o que parece ser imoral.
A Brisair comprar o Phenom, com dinheiro subsidiado, não é?
Não é o mesmo que um caminhoneiro comprar um Scania para transportar soja.
A “defesa” de que foram centenas de milhares de contratos do Finame é uma furada. Os pequenos empresários são gratos ao BNDES, o crédito mais barato que têm, mas não podem pegar senão uma migalha do que Huck pegou.
Nunca sugeri que Huck deveria ser entregue a Sérgio Moro, embora ele receba da Petrobras por merchandising.
A fugaz menção na Folha não me orgulha, me envergonha.
Porque o fato é, escancaradamente, minimizado.
Os 40 anos desde que, como estagiário de O Globo, sentei diante de uma máquina de escrever, me fizeram amar os fatos.
Mesmo que isso me traga riscos e , até, certezas, de que não terei o direito de exercer a a minha profissão, senão por este caminho da independência,
O fato é fato quando é fato, ainda que abrandado em palavras de algodão.