A Fifa é um sócio complicado. Não bastasse a ingerência, seus dois chefes, Sepp Blatter e Jerome Valcke, gostam de detonar o Brasil. Blatter, o presidente, já disse que somos “o país com mais atrasos e o que teve mais tempo, sete anos, para se preparar”. Valcke, secretário-geral, afirmou que merecíamos um “chute no traseiro”.
Romário tem sido dos poucos políticos a reagir publicamente. Há poucas semanas, em entrevista para a ESPN Brasil, chamou Blatter de “ladrão, corrupto e filho da puta”. Sobre Valcke, falou que se trata de “um dos maiores chantagistas do esporte mundial. Esse cara vem aqui no país, manda, desmanda, fala, desfala e todo mundo bate palma e fica tudo certo”.
Descontada a velha intempestividade do deputado, Romário tem um ponto aí. A Fifa, autoritária e arrogante, enxerga o Brasil como um acidente desagradável. A prova mais recente disso foi uma matéria da última edição da revista digital da entidade com dicas de sobrevivência aqui. É relativamente bem-humorada, cheia de estereótipos nacionais — e, a rigor, nada muito fora da realidade.
Mas é um retrato da maneira como o país é visto por Blatter, Valcke e companhia. São dez conselhos. Coisas como: “No Brasil é muito comum fazer as coisas no último minuto. A recomendação aos turistas é que tenham muita paciência. No final, tudo estará pronto a tempo. Isso pode ser aplicado aos estádios. A filosofia dos brasileiros na vida pode ser resumida à seguinte frase: ‘relaxa e goza’.”
O Ministério do Turismo pediu que a reportagem fosse retirada do ar e foi atendido. A Fifa se desculpou: “O objetivo era mostrar as características relaxadas do povo brasileiro”. A foto que a ilustrava era também um clássico: duas mulatas tomando sol, dadivosas, apreciando alguns marmanjos batendo bola numa praia carioca.
Não se ouviu falar de piadas desse tipo com Alemanha, França, Japão ou Estados Unidos, que sediaram o Mundial. Em circunstâncias normais, seria uma matéria de viagem besta para preencher duas páginas. À luz do modo como Valcke e Blatter se referem constantemente ao Brasil, é mais uma evidência de que talvez Romário não esteja tão errado assim.
Eis os 10 conselhos para os turistas evitarem “desentendimentos culturais”:
1. Sim nem sempre significa sim
Os brasileiros são otimistas e nunca começam uma frase com a palavra “não”. Para eles, “sim” significa na realidade ‘talvez”. Quando disserem “Sim, eu te ligo”, é melhor que não espere que o telefone toque nos próximos cinco minutos.
2. Horário flexível
A pontualidade é um conceito muito flexível no Brasil. Quando marcar com alguém, ninguém espera que estará no lugar combinado na hora exata. O normal é contar com uns 15 minutos de atraso.
3. Contato físico
Os brasileiros e as brasileiras não estão familiarizados com o costume da Europa de manter distância como norma de cortesia e conduta. Eles falam com as mãos e não evitam de tocar o interlocutor. Isso pode facilmente se transformar em um beijo se a conversa estiver ocorrendo em uma discoteca, por exemplo.
4. Fazer fila
A paciência na hora de esperar não é uma das principais virtudes dos brasileiros. Por exemplo, não existe uma “fila mecânica” como na Inglaterra. Os brasileiros preferem ser inteligentes, sempre se arranjando para chegar na frente.
5. Moderação
Quem se animar a ir a uma churrascaria, deverá praticar jejum de 12 horas e maneirar na hora de comer, já que as melhores carnes chegam na parte final.
6. A lei do mais forte
A regra que dá direito à preferência dos carros no trânsito é simples: o veículo maior passa na frente.
7. Proibido fazer topless
A imagem das mulheres com pouca roupa, tão típica no carnaval, pode ser enganosa e é diferente da realidade. É certo que os biquínis brasileiros têm menos pano que os europeus, mas as brasileiras nunca os tiram na praia, onde fazer topless é proibido e pode resultar em prisão.
8. A língua espanhola não vale
Os turistas que tentarem se comunicar em espanhol terão a sensação de estar falando com as paredes. A língua nacional do país é o “brasileiro”, uma variável do português. Quem falar que Buenos Aires é a capital do Brasil, pode estar seguro de que será deportado imediatamente.
9. Experimentar o ‘açaí’
As bacias da Amazônia fazem maravilhas: previnem as rugas e têm o mesmo efeito de uma bebida energética. Algumas mordidas podem recuperar o jogador de futebol mais cansado.
10. Paciência
No Brasil é muito comum fazer as coisas no último minuto. A recomendação aos turistas é que tenham muita paciência. No final, tudo estará pronto a tempo. Isso pode ser aplicado aos estádios. A filosofia dos brasileiros na vida pode ser resumida à seguinte frase: “relaxa e goza.”