O jogo sujo do MBL está na campanha de Flávio Rocha, o candidato dos “bons costumes”? Quanto custa? Por Donato

Atualizado em 10 de abril de 2018 às 12:01
Flávio Rocha e seus amigos do MBL. O “Mamãe Falei” está à sua esquerda

Alguns dos atuais pré-candidatos à presidência deveriam explicitar que seus programas prevêm alçar o país ao título de capital mundial da hipocrisia.

É o caso de Flávio Rocha, dono da Riachuelo.

Ontem, durante o Fórum da Liberdade realizado em Porto Alegre, um evento organizado pelo liberal IEE (Instituto de Estudos Empresariais) – e tão expressivo que a coisa mais relevante e midiática foi o pescotapa que Ciro Gomes deu no debiloide e cagarolas Arthur do Val do Mamãefalei – o empresário declarou que a campanha eleitoral deste ano não será pautada pelo debate econômico porque “as ideias da esquerda nesse tema estão falidas e enterradas a mil metros de profundidade”, segundo ele.

Para Flávio Rocha, o que será realmente debatido e irá ter peso na intenção de voto do eleitor serão ‘os bons costumes’.

“O que toca no fundo o eleitor, o que será o grande ‘driver’ do voto é uma contraposição enérgica e indignada contra a erosão dos nossos valores mais caros (…) O fantasma que nos assombra, que nos ameaça, com o retrocesso que pode acontecer, é o marxismo cultural, é a lógica de bagunçar para dominar”, afirmou ele que pretende apresentar um ‘projeto de indignação’, para questionar a ‘inversão de valores’ como a ‘vitimização do bandido’.

Bem, se o liberal e moralista postulante ao Planalto acredita realmente no que disse, precisaria se desvencilhar de sua turma linha de frente na campanha, os meninos do MBL (Movimento Brasil Livre) o quanto antes. Afinal, as práticas do MBL não são nem um pouco honestas.

A turminha de pós-adolescentes que paga de moralista tem se aprimorado nas falcatruas.

Nas últimas semanas, o MBL fez uso de um aplicativo irregular – um tal Voxer –  para alavancar suas postagens e aumentar sua influência nas redes sociais.

O movimento enviou mensagens para seus seguidores pedindo autorização para usar o perfil deles para compartilhar até dois posts por dia por meio das contas pessoais. Muitos concordaram.

Ou seja, o MBL obteve um maior compartilhamento de suas postagens através do Voxer e da ingenuidade de incautos apoiadores.

A assinatura anual do programa Voxer custa R$ 7,9 mil. O MBL, com a conversa de que novos protestos precisariam ser convocados para não se correr o risco de ver Lula absolvido, realizou uma vaquinha online. Até o dia 2, tinha arrecadado R$ 14 mil.

Portanto, não é grande exercício de inteligência deduzir que os ignorantes apoiadores do MBL pagaram pelo ‘serviço’ de terem usurpadas suas contas pessoais do Facebook. E ainda restou um troco de mais de R$ 6 mil para a cervejinha dos organizadores do MBL.

Inversão de valores, senhor Rocha?

A argumentação de Kataguiri para passar o chapéu entre seus fiéis foi: “O STF quer livrar um dos maiores bandidos da história desse país; nós queremos evitar isso.” Ao ser informada pelo jornal O Globo sobre o ocorrido, a rede social de Mark Zukerberg desativou o Voxer. Mas até aí, muita gente já tinha caído no golpe.

Na terça-feira, véspera do julgamento do pedido de habeas corpus de Lula pelo STF, Flávio Rocha estava na avenida Paulista tomada por mais uma manifestação ‘patriótica’.

Sobre o caminhão de som do MBL, o empresário agora filiado ao PRB – braço político da Igreja Universal do Reino de Deus – fez questão de lembrar que esteve com eles (os manifestoches) em todos os atos pelo impeachment de Dilma Rousseff, mas alertou a plateia ali presente de que a saída do PT do poder não havia sido o suficiente para acabar com a corrupção.

“A gente achava que bastava tirar o PT do governo, mas não bastou, a jararaca era maior do que imaginávamos”, disse ele. Era mesmo. E ali, bem a seu lado, estavam muitas cobras.

É evidente que Flávio Rocha sabe como age o MBL. Ambos têm se ajudado mutuamente. Através da Riachuelo, o empresário colaborou no financiamento das manifestações do MBL pelo impeachment.

Hoje o ‘movimento’ declara ser ele o candidato a ser votado nas próximas eleições, tem feito campanha para Rocha até em artigos na mídia tradicional.

Recentemente, Kim Kataguiri ocupou um espaço nobre (a seção Tendências/Debates na página 3 da Folha de S.Paulo) e mandou ver no apoio ao empresário, abandonando o barco de João Doria, outro aliado.

Quanto está custando tudo isso? Ou é algum tipo de permuta? De onde vem o dinheiro dessa turma que se dizia ‘independente’, ‘apartidária’, ‘contra os corruptos’?

Na mesma terça-feira em que Flávio Rocha e o MBL estavam na avenida Paulista, o VemPraRua publicou anúncios de página inteira nos grandes jornais, convocando para a manifestação por ‘justiça’. Uma página em veículos como o Estadão e a Folha custam algo em torno de R$ 382 mil.

Ok, os jornais estão matando cachorro a grito e certamente é possível obter um bom desconto sobre o preço de tabela. Mas barato não é. Quem pagou? Quanto o MBL está cobrando pelas postagens em favor de Flávio Rocha?

O candidato preferido do MBL é um embuste semelhante a João Doria. Posa de empresário-não-político. Só para os desinformados. Flávio Rocha já foi deputado duas vezes e troca de partido como quem troca de camisa.

Foi eleito pela primeira vez pelo PFL (atual DEM), durante o mandato mudou para o Partido Liberal (PL), quando foi reeleito deputado já estava no Partido da Reconstrução Nacional (PRN) e depois voltou ao PL.

Em 1994, Flávio Rocha almejou pela primeira vez ao Planalto. Caiu devido a denúncia do jornalista Xico Sá, que se fez passar por empresário disposto a colaborar com a campanha.

Naquele ano, uma decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) autorizava uma forma de financiamento de campanha por meio de ‘bônus eleitorais’ (que funcionavam como recibos entregues pelos partidos aos doadores de campanha).

Xico Sá comprou os tais bônus eleitorais pela metade do preço (o resto do valor seria complementado por notas fiscais falsas), comprovando que ali havia uma brecha de caixa 2 para lavar dinheiro. Flávio Rocha colocou a culpa no responsável pelo comitê, mas sua candidatura foi pelo ralo.

Agora o empresário tem na linha de frente o MBL. Melhorou, não?