Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES
Por Moisés Mendes
A desinformação sobre a existência ou não de um plano de vacinação é produto também da omissão do dito jornalismo investigativo da grande imprensa.
Se ainda houvesse mesmo um jornalismo investigativo (e não um jornalismo de vazamento de documentos), já saberíamos em detalhes o que é verdade e mentira nas declarações do governo.
Se houvesse mesmo disposição para investigar, é provável que descobrissem que Bolsonaro não fez nenhuma encomenda de vacina. nenhuma. E que os laboratórios são enrolados pelo governo da mesma forma que a população. E que, por consequência, se não há vacinas, não há um planejamento de distribuição de vacinas.
O jornalismo trata a todos nós da mesma forma que o governo vem tratando. Com lerdeza, sem vontade para esclarecer, ouvindo declarações, comentando as contradições de Eduardo Pazuello e dando espaço para as bravatas de Bolsonaro.
Não há uma linha, uma só, nos jornalões sobre o que existe de verdade na informação do governo de que vai comprar vacinas e de que tem um plano. Declarações vagas, do governo e mesmo dos laboratórios, não são informação numa hora dessas.
O jornalismo está devendo ao país o mesmo trabalho que já fez em outras ocasiões, para que a verdade seja descoberta. O que se tem até agora é a mentira e a enrolação.
Os jornais são hoje porta-vozes de Pazuello e Bolsonaro. Falta no comando das grandes redações a mesma liderança que está faltando ao país.
Hoje, está sendo divulgado que o Observatório Covid-19 BR, um projeto multidisciplinar de cientistas que avaliam o avanço da pandemia e tentam contribuir para combater a peste, analisou o plano de vacinação do Ministério da Saúde e descobriu que não há plano nenhum.
É preciso agora que, depois da constatação dos cientistas, a imprensa mostre em detalhes como essa farsa foi construída.
São os grandes jornais que têm estrutura e gente para formar mutirões e ir atrás da verdade. Falta alguém nas grandes redações que diga: vai lá, investiga e desmascara essa conversa do governo de que está comprando vacinas. O jornalismo precisa sair do cercado armado por Bolsonaro.