O homem que desmascarou Ricardo Teixeira e Havelange

Atualizado em 17 de março de 2013 às 14:12

Andrew Jennings, jornalista britânico, combate o bom combate quando o assunto é corrupção.

Recentemente, num artigo sobre transparência no esporte, Jennings citou uma grande frase do barão da mídia Lorde Northcliff: “Notícia é tudo aquilo que alguém não quer que seja publicado. O resto é publicidade.”

Cabelos brancos, lépido ainda aos 68 anos, escocês desde cedo instalado em Londres, Andrew Jennings é o maior jornalista investigativo do mundo na área do futebol.

São fruto do trabalho persistente, obstinado, brilhante de Jennings as denúncias que você leu sobre as milionárias propinas recebidas por Ricardo Teixeira e João Havelange ao longo de muitos anos pelas mãos de uma falecida empresa de marketing esportivo chamada ISL.

O ponto alto da investigação de Jennings foi um documentário de 30 minutos passado, no final de 2010, na BBC. É uma lição de jornalismo, além de uma peça formidável na luta contra a corrupção no futebol.

Jennings com Sepp

Jennings simplesmente irrompe com suas perguntas francas, desconcertantes, certeiras. Seu jeito clássico de agir é ficar à espreita de algum personagem do mundo sujo da Fifa e aparecer subitamente diante dele com suas questões diretas, feitas num  tom suave, elegante e direto.

Uma vez, Jennings esperou num aeroporto a chegada de Jack Warner, então vice-presidente da Fifa, envolvido em múltiplos casos de corrupção. Warner está andando em direção ao carro quando Jennings o aborda. Um cinegrafista está filmando.

“Se eu pudesse cuspir em você, eu cuspiria”, diz Warner.

“Por quê?”

“Porque você é um lixo.”

Antes que Warner entrasse no carrão que o aguardava, Jennings faz mais uma pergunta sobre propinas.

“Pergunte à sua mãe”, diz Warner.

“Bem, eu até que gostaria, mas minha mãe está morta”, responde, com bom humor e sempre no mesmo tom de voz, Jennings.

Jack Warner acabaria, pouco depois, afastado da Fifa, sob o peso das denúncias de Jennings. “Renunciou voluntariamente”, segundo a Fifa.

O alvo principal de Jennings não é nem Havelange e nem Ricardo Teixeira, assim como não era Warner.

É Sepp Blatter, o suíço que substituiu Havelange no comando da Fifa.

Neste caso, há ainda um caminho a percorrer. Blatter tenta se apresentar como um “reformador de costumes” na Fifa, um agente anticorrupção.

Mas quem acredita nisso, para usar as palavras imortais de Wellington, acredita em tudo.