Grayson Perry é um artista contemporâneo britânico de muito prestígio. Ele trabalha com cerâmica, e já recebeu o prêmio artístico mais importante da Inglaterra, o Turner. Para saber a estatura dele, basta dizer que Perry, 51 anos, está sendo exposto, nestes dias, no British Museum.
Foi lá que conheci Perry, atraído por uma moto rosa e toda enfeitada que está na escadaria que leva ao segundo piso do museu. Imagino que é a moto uma garota pré-adolescente desenharia. Mas Perry fez para ele mesmo.
Ou para Claire, que é como ele se autodenomina quando veste roupas de mulher. Vamos dizer assim: Perry é o Laerte deles. Ou Laerte é o Perry nosso.
O que leva um homem a se vestir de mulher e inevitavelmente se tornar espalhafatosamente patético é algo que foge a meu escasso conhecimento das patologias. E tão estranho é o que faz uma mulher se interessar por um homem vestido de mulher.
Perry é casado e, segundo quem o conhece, é inteiramente heterossexual. Quando está com roupas de homem, parece por vezes um brutamentes. Não é efeminado ao modo consagrado por Oscar Wilde.
Perguntaram a sua mulher como ela se sente casada com um travesti. Ela se saiu britanicamente bem: “É bom porque ao olhar para ele eu sempre acho que estou bonita.” Os dois têm uma filha adolescente. Penso aqui nas piadas que ela é obrigada a ouvir na escola.
Mulheres ficam lindas em vestidos, homens ficam ridículos – mas atraem a atenção. Se se trata de um artista, ele receberá uma cobertura da mídia enorme, e sua obra consequentemente se valorizará. É provável que, com a celebridade, passe a ser convidado a festas de ricos que gostam de se passar por abertos. Terá muitas bocas livres, portanto.
Estará aí, nas vantagens materiais, a explicação para o guarda-roupa de artistas como Perry e Laerte?
Suspeito que em parte si. Mas a outra parte, repito, pertence a patologias que em minha ignorância desconheço.