Publicado originalmente no perfil de Facebook do autor
POR LUIS FELIPE MIGUEL, professor de ciência política da UnB
O laranjal do PSL é uma beleza.
O Diretório Nacional repassou 400 mil reais – o terceiro maior repasse de todos, mais até do que para a candidatura presidencial – a uma candidata a deputada federal que fez 274 votos.
A ex-candidata diz que não se lembra do nome do contador que aparece em sua prestação de contas, nem da gráfica que teria contratado, nem quanto gastou, nem volume de material que encomendou, nem por que saiu candidata.
Que não lembre da gráfica se entende: no endereço indicado na nota fiscal está uma oficina de carros, que atende pelo nome suuuper original de “Martelinho de Ouro”.
Luciano Bivar é presidente do PSL (e o campeão de repasse do fundo partidário: foram quase 2 milhões de reais para sua candidatura). Ele explicou que o problema todo é que mulher não sabe fazer campanha. Vale a pena reproduzir sua declaração inteira: “Você tem que ir pela vocação. Tá certo? Se os homens preferem mais política do que mulher, paciência. É a vocação. Se você fosse fazer uma eleição para bailarinos e colocasse uma cota de 50% para homens, você ia perder belíssimas bailarinas. Porque a vocação da mulher para bailarina é muito maior. É uma questão de vocação, querida. Eu não sei como é na sua casa, mas acho que seu pai seria candidato e sua mãe, não. Ela prefere outras coisas, ver o Jornal Nacional e criticar. Do que entrar pra vida partidária. Não é muito da mulher”.
Se é assim, por que enterraram 400 mil reais em uma única campanha fadada ao fracasso?
O caso é um mini-retrato do “Brasil novo” que as urnas do ano passado colocaram no poder: corrupção rasteira, sem muita preocupação em ser disfarçada, já que voltou a certeza da impunidade; recurso descarado a todo o tipo de preconceito; desprezo por lógica ou verossimilhança nas explicações.