Bolsonaro jogou a gasolina, entregou o fósforo aos militares e aos manés e fugiu para os Estados Unidos antes do 8 de janeiro. E o 8 de janeiro foi o que se sabe: um ato brutal e grotesco como vandalismo e um fiasco como golpe.
O golpe fracassou porque os milicos se dividiram e deixaram o fósforo com os manés. E o 8 de janeiro foi o vexame que ninguém assume. Teve público equivalente ao de plateia de ginásio de esportes de Barbacena.
Não apareceu a massa esperada por Bolsonaro. Apareceram os manés que estavam acampados no QG do Exército e mais os que foram levados de ônibus no dia da invasão.
Não há nenhum dado indicando que a tomada dos prédios tenha tido participação numérica espontânea relevante de moradores de Brasília e do entorno. Só teve acampados e transportados.
Não houve golpe porque não houve massa, não houve apoio militar, nada que pudesse dar à invasão a dimensão política pretendida.
Por que falar disso agora? Porque, se o 8 de janeiro, que foi idealizado até ali por Bolsonaro e ‘planejado’ por generais medíocres, não levou mais de 5 mil pessoas a Brasília, que tamanho teria hoje uma convocação de apoio a Bolsonaro, se o sujeito fosse preso?
A revolta é uma hipótese que circula não só em grupos de tios de zap, mas nos jornalões, como colaboração de comentaristas mobilizados no último esforço de defesa de Bolsonaro e dos militares, porque os manés já foram abandonados.
Espalham como previsão que a prisão do sujeito provocaria uma revolta incontrolável. E passa a ser encarada como coisa séria a dúvida sobre a possibilidade e o tamanho de um levante.
Tem grande chance de acertar quem, por intuição e juntando histórico recente e dados disponíveis, disser que não acontecerá quase nada.
Se Bolsonaro viesse a ser preso, como medida preventiva, o que não parece provável hoje, tios e tias do zap seriam mobilizados para criar o caos e incendiar o Brasil. Mas só no zap.
Bolsonaro não tem base com vitalidade física para movimentos de massa nas ruas. Tem uma militância de gente de mais de 50 anos, como se viu na Paulista, de uma classe média branca católica e evangélica, que foi rezar com Malafaia.
Mas essa gente não parece ter o perfil de quem se dispõe a correr riscos além de aglomerações e motociatas, e muito menos agora, com os sinais de que Alexandre de Moraes não fará concessões.
Esses mesmos tios das rezas na Paulista tiveram a chance de invadir Brasília naquele dia 8, a partir de todo o entorno do planalto central. Não apareceram.
Tios e as tias do zap não têm vocação nem força para um levante e é quase certo que não têm coragem para tanto. Ausentaram-se na invasão de janeiro para não se misturarem à ralé conduzida para o matadouro.
Os presos de Brasília são a chinelagem do bolsonarismo, com exceções, sem expressão nenhuma como quadros militantes. E também sem poder econômico para representar o que seria a classe média branca que sustenta as bases de Bolsonaro.
Os manés de Brasília foram patrocinados por manezões que não aparecem nessas circunstâncias. E muitos desses manezões entrincheirados têm laranjas que fingem ser manezões, mas apenas repassavam o dinheiro que financiou a invasão, assim como acontecia com as milícias digitais.
Não há um nome, um só, de alguém que possa ser considerado relevante na extrema direita entre presos e condenados pela invasão de Brasília. Essa é a definição depreciativa do próprio Bolsonaro: são uns coitados. Agiram por obediência.
Coitados que sabiam o que estavam fazendo, mas sem expressão como base do fascismo. Todos eram menos importantes do que os invasores do Capitólio, que reuniu figuras conhecidas do ativismo pró-Trump.
Então, parem com essa conversa de levante. Poderão acontecer, como já aconteceram, ações terroristas pontuais, como os atentados às torres de energia elétrica, até hoje sem indiciados.
Bandidos controlados pelos mesmos patrocinadores poderão agir em nome do caos, como agiram na tentativa de explodir um caminhão no aeroporto de Brasília e de invadir a sede da Polícia Federal (foto). Mas quem acredita num levante de massa em defesa de Bolsonaro?
Perguntem aos manés e terroristas presos pelo 8 de janeiro se eles acreditam, depois de terem levado a sério que Bolsonaro voltaria dos Estados Unidos e desfilaria na Esplanada dos Ministérios montado num cavalo branco de cola verde, com Augusto Heleno na garupa.
Originalmente publicado no Blog do Moisés Mendes.