O maior desafio da China

Atualizado em 31 de agosto de 2012 às 18:24
O riso que indignou a China

 

Yang Dacai riu na hora errada e está em apuros.

Ele é o responsável pela segurança do estado de Xianxim, na China. É um cargo relevante no poder em Xianxim. Alguns dias atrás, Yang foi acompanhar os trabalhos de resgate de corpos depois que um terrível acidente de ônibus matou, incinerados, 36 dos 39 passageiros. O ônibus se chocou contra um caminhão carregado de petróleo e pegou fogo.

Uma câmara apanhou Yang rindo – e a imagem provocou indignação entre os internautas chineses. No Weibo, o equivalente chinês do Twitter, Yang foi duramente atacado.

Seus problemas não pararam aí.

Começaram a circular fotos dele, na internet, com variados relógios. Ele é maníaco por relógios. A não ser que sejam fajutos, são de marcas caras. A pergunta óbvia: como ele conseguiu comprá-los, com seu salário modesto de funcionário público?

Yang aceitou participar de uma sessão de perguntas no Weibo. Sobre a risada, disse que estava tentando transmitir alguma tranquilidade à sua equipe, num momento tão duro.

Sobre os relógios, disse que comprou com seu salário. Yang provavelmente vai ter que explicar melhor isso.

Num editorial, o jornal Global Times, que reflete o pensamento do governo chinês, elogiou a iniciativa de Yang de dar satisfações à opinião pública. Mas destacou que a questão dos relógios ficou malcontada.

O caso reflete uma preocupação central da China: combater a corrupção num momento em que o dinheiro jorra no país.

Numa de suas últimas edições, a revista americana Time notou que os chineses parecem não estar nada interessados nas eleições presidenciais nos Estados Unidos. O espaço dado ao duelo Obama-Romney mídia chinesa é insignificante.

Por quê, quando os chineses sabem que os Estados Unidos a qualquer momento podem encontrar pretextos para criar problemas para o país na luta pela hegemonia mundial?

A melhor resposta que vi foi num editorial de um jornal chinês. “Nosso maior desafio, em nosso desenvolvimento, não está nos Estados Unidos. Está em nós mesmos.”

A cultura chinesa – baseada nos ensinamentos de Confúcio, um filósofo venerado há séculos na China – é amplamente superior à americana. Modéstia versus ostentação, simplicidade versus arrogância, sentimento de comunidade versus individualismo.

Amparada no confucionismo, a China — que foi pilhada e retalhada pelas potências ocidentais no século 19 nas infames Guerras do Ópio – se reergueu dos destroços para se tornar o que é hoje.

Caso o dinheiro corroa a cultura que explica a força chinesa, os estragos serão ainda piores do que os causados pela rapinagem ocidental no chamado Século da Humilhação.