Mesmo para quem não esperava nada de Temer na TV ele surpreendeu.
Churchill com suas palavras na guerra via BBC derrotou Hitler.
Temer, ao falar em público, derrota a todos — a começar por ele mesmo.
Citei Churchill e prossigamos com ele. Churchill, o maior gênio político que o conservadorismo foi capaz de produzir, prometia luta contra o nazismo. Por terra, por céu, por mar.
Temer prometeu uma vitória contra tudo de ruim que está por aí. Uma vez que é ele mesmo o pior de tudo que está aí, chega a ser engraçado.
Estadistas falam em combater o combate. Políticos pinguelas prometem vitórias em qualquer circunstância.
Imagine Felipão no intervalo de Brasil e Alemanha, quando perdíamos de 5 a 0, dizendo que íamos virar e fazer 6 a 5 no segundo tempo.
Foi esta a atitude de Temer.
Não vou vou nem lembrar que ele já dissera as mesmas coisas nestes seis ou sete meses em que está no poder.
Tudo, segundo ele durante o processo do golpe, se resolveria automaticamente com a saída de Dilma.
Os empresários voltariam a investir vigorosamente, os empregos perdidos seriam rapidamente recuperados e por aí vai.
Se a fala da TV fosse uma prestação de contas, Temer estaria em apuros. Prometeu e não entregou. Como resposta, renovou as promessas fracassadas, um clássico dos políticos pinguelas.
Mas com que credibilidade? Ninguém acredita nele. É o presidente mais mal avaliado que o país já teve desde o surgimento das pesquisas.
Num mundo ideal, o presidente que ele daria aos brasileiros, na tevê, seria um breve: “Ofereço a vocês a minha renúncia.”
Uma linha, uma única linha.
Entre tantos pecados em poucos minutos, o maior não disse respeito à economia ou à política.
O maior pecado — bem observado pelo jornalista Fernando Brito, do Tijolaço — foi a menção a Dom Paulo Evaristo Arns.
Ora, ora, ora.
Temer fugiu do extenso velório de Dom Paulo por medo de ser vaiado. Por covardia. Por delírio: como alguém poderia pensar em vaias profanas num momento tão solene como o velório de Dom Paulo?
Dom Paulo teve uma vida franciscana e lutou sempre pelos pobres. Temer optou pela vida opulenta e fez desde sempre a opção pelos ricos.
Viveram vidas paralelas. Onde estava Temer quando Dom Paulo arriscava a vida contra a ditadura?
O maior presente que os brasileiros poderão receber em 2017 é não ter mais Temer em sua tevê — em sua vida. De preferência um presente bem antecipado, Janeiro, por exemplo.
Em sua insuperável generosidade, Dom Paulo perdoaria Temer por citá-lo de forma tão vil e oportunista.
Mas nós não somos Dom Paulo. Não perdoaremos. Não esqueceremos.