PUBLICADO ORIGINALMENTE NO GGN
Pouco sei da carreira política do casal Garotinho. Cada vez que escrevo sobre eles, amigos correm para sugerir cautela. Mas a perseguição que lhes é movida pelo sistema do Rio de Janeiro – Tribunal de Justiça, procuradores e Globo –, sob silêncio geral, é um massacre.
Garotinho é um político local que tentou um voo mais alto. Não conseguiu se transformar em um líder nacional, capaz de manter alianças com os sistemas de poder – Judiciário, Congresso, mídia -, mas ficou grande demais para se abrigar nas asas de algum padrinho político, em partidos ou nos tribunais superiores. Não tem vinculação nem com esquerda, nem com direita, nem com intelectuais, nem com juristas. Não tem aliados nos partidos maiores, menos ainda na mídia.
Mesmo assim, é politicamente atrevido nos desafios que faz e fez. Já desafiou o Tribunal de Justiça do Rio, a Globo.
Com esse atrevimento – e essas vulnerabilidades – tornou-se um prato para esse pessoal. Podem aprontar o que quiser com seus direitos que não haverá gritos de revolta, manifestações dos órgãos de defesa dos direitos humanos, clamor dos juristas mais conhecidos ou a defesa do Gilmar Mendes. Não haverá manifestações internas, menos ainda as internacionais.
A prisão do casal Garotinho, a humilhação a que foram expostos por procuradores – que permitiram cenas da prisão no Fantástico -, a perseguição implacável da mídia, cobrando até a submissão de Rosinha às faxinas do presídio, mostram o Rio de Janeiro definitivamente como uma terra de ninguém.
É covardia dos eminentes magistrados, é covardia da Globo, é covardia de todos os que se calam, porque as vítimas não se enquadram a nenhum dos escaninhos do poder ou da oposição.
Defender Garotinho não enriquece currículos.
Por isso, mais do que os prisioneiros políticos da Lava Jato, a prisão do casal Garotinho é o maior desafio que os direitos individuais enfrentam nesse país sem leis.