O MBL surgiu como movimento apartidário contra a corrupção. Não demorou para revelar-se alinhado a caciques da velha política. Agora o grupo revela o seu lado miliciano, alinhado, como sempre, com a nata do conservadorismo político brasileiro.
Na noite da última quinta-feira (27/10), cerca de cem militantes do grupo tentaram expulsar estudantes que ocupam os colégios Pedro Macedo e Lysimaco Ferreira da Costa, em Curitiba. A garotada protesta contra a PEC 241, que limita os gastos públicos por 20 anos e vai causar prejuízos à educação e saúde públicas.
No momento em que escrevo este texto está sendo mostrada na página do MBL no Facebook uma transmissão ao vivo de uma desocupação na CEMAB Brasília.
De uma hora para outra, o grupo se colocou na vanguarda contra as ocupações. A foto do perfil traz a mensagem “Eu luto pela educação, quero o fim das invasões nas escolas”. Se luta pela ocupação, por que não usou a truculência demonstrada contra os estudantes secundaristas para defender os professores paranaenses contra a polícia do governador Beto Richa (PSBD), no confronto do ano passado.
Quem os respalda agir como uma força paramilitar à revelia do ordenamento jurídico?
A resposta é que o MBL nunca lutou contra a corrupção ou a qualidade da educação. A agenda do grupo é a mesma do governo Temer. Para onde o vento do PMDB, PSDB e do DEM soprar, a barcaça do MBL irá atrás.
Kim, Renan, Holiday e seus asseclas lutaram pelo impeachment da presidente Dilma e agora servem de linha auxiliar para a consolidação da PEC 241. A novidade nessa nova missão é o uso da truculência, que deixa no ar a pergunta indigesta: o que esperar nesse grupo ruidoso em um futuro próximo?
A militância nas ruas e nas redes sociais garantiu ótimos espaços a duas estrelas do MBL. Kim Kataguiri ganhou uma coluna na Folha de São Paulo. Fernando Holiday foi eleito vereador por São Paulo.
Cabe saber se a nova faceta do MBL servirá de trampolim para seus quadros. Caso sirva, certamente terá efeitos mais deletérios que os discursos histriônicos dos meninos supracitados. Basta lembrar como a SS começou. De pequena milícia para proteger dirigentes do partido nazista transformou-se em um eficiente aparato de extermínio.
O exemplo é extremo, admito, mas o caminho de um militante pela desocupação de escolas para se tornar empresário do ramo da segurança privada com contratos com o governo é curto e plausível. Em uma sociedade onde a falta de segurança pública é recurso muito lucrativo, virar miliciano “em defesa da educação” oferece excelentes perspectivas profissionais.
Resta aguardar as cenas da próximas ocupações.