Goste-se ou não de Lula, é inquestionável que seu julgamento hoje está conduzido por forte componente político. E como o judiciário não fecha os olhos para a política, a política igualmente não está isenta do fator mercado.
Foi o mercado quem financiou o impeachment, um instrumento político, chancelado pelo judiciário. Esses três são cada dia mais interdependentes.
Não deveríamos, portanto, nos surpreender com o terrorismo feito pelos analistas do tal mercado nas últimas horas.
“Os mercados ficam mais tranquilos se o Lula estiver fora do jogo”, disse ontem José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
Estão tocando o terror mediante ‘o medo’ de uma absolvição de Lula tal e qual fez o então presidente da Fiesp, Mario Amato, ao prever a evasão de 800 mil empresas do país caso Lula se tornasse presidente algum dia.
Balela. O tal mercado lucra com essas ameaças assustadoras. Perante a fala de Mario Amato, em 2002 houve uma grande desvalorização de ativos brasileiros devido o efeito Lula.
O tal mercado que nada tem de bobo, aproveitou a queda para comprar bilhões em ações. Lula tomou posse, a economia andou bem e o tal mercado ganhou montanhas de dinheiro com a valorização daquilo que havia comprado baratinho.
É o que estão fazendo novamente. Informam que desejam não apenas a condenação, mas a impossibilidade de recursos de Lula. Querem o 3X0 e não 2X1. Nos discursos terroristas dos barões do dinheiro, 2X1 já seria suficiente para derrubar a Bolsa e subir o dólar.
Para Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências, a queda na Bolsa ontem (1,2%) já foi o reflexo do receio que a condenação de Lula não seja por unanimidade hoje no TRF-4 (mentira, o resultado negativo de ontem se deveu sobretudo pela queda das ações da Vale frente ao preço do ferro mundo afora). Para ele, o tal mercado vinha caminhando bem pois havia uma percepção no exterior que o resultado do julgamento seria 3X0.
“O movimento positivo na Bolsa desde o começo do ano tem um componente de exterior e a percepção do mercado de que viria uma condenação por 3 x 0, que dificultaria a candidatura de Lula”, disse ele. Sim, exterior. O tal mercado é fundamentalmente estrangeiro. Chinês, americano, marciano.
“Entre o 3 x 0 e o 2 x 1, claramente o mercado tem um viés de acreditar mais em um resultado unânime.
Se a decisão do Moro for referendada, o impacto positivo na Bolsa e no dólar tende a ser menor que o reflexo negativo de um 2 x 1”, afirmou Ronaldo Patah, estrategista de investimentos do UBS Wealth Management. Como se o tal mercado não lucrasse com as intermitentes quedas e decolagens de ações e moedas.
Semear o medo para tirar proveito financeiro é o que esses porta-vozes do mercado fazem. Mesmo que para isso recorram a discursos dos tempos de Mario Amato.
“Pode ter um movimento de saída de investidores estrangeiros também. Tem muita gente, não só do mercado, mas da economia real, que tem muito medo do Lula. Os empresários tendem a segurar investimentos num eventual governo Lula”, declarou Ronaldo Patah, fazendo de conta que Lula nunca tenha exercido dois mandatos nos quais o tal mercado não foi à bancarrota. Pelo contrário.