Quando o deputado estadual Feliciano Filho (PEN) apresentou projeto à Assembléia Legislativa de São Paulo, no ano passado, que proibiria o sacrifício de animais em todo o estado, o vereador e umbandista Laércio Benko (PHS) foi absolutamente contra, alegando que não existe sacrifício, mas sim a imolação dos animais “em religiões de matrizes africanas”. Disse também que são usados bodes e galinhas e não animais domésticos, como cachorros e gatos.
Curioso esse raciocínio, em que a vida de alguns animais vale mais que a de outros. Parece simplista e pessoal, já que o vereador umbandista é parte interessada no assunto.
Algum tempo depois, após viagem à Hungria, onde alguém buzinou em seu ouvido sobre o processo de gavage (método utilizado para o pato engordar, em que o mesmo é submetido à alimentação forçada para inchar seu fígado), decidiu que não comeria mais foie gras (o fígado do pato gordo) e, mais que isso, que a cidade de São Paulo também não, encaminhando projeto à Câmara Municipal, aprovado na última quinta-feira, visando a proibição da comercialização da iguaria. O projeto deve ainda passar por uma segunda votação antes de ser encaminhado ao prefeito.
O que talvez o vereador não saiba é que há várias maneiras de engordar o pato, nem sempre de maneira cruel. Os métodos de produção vem sendo discutidos há décadas em inúmeros países. Será que o vereador se informou sobre isso? Ou criou o projeto baseado apenas em experiências pessoais? Bizarro o mundo de Laércio Benko, onde é cruel engordar um pato, mas natural sacrificar galinhas em nome de crenças africanas.
Se aprovada a lei, a cidade perde a oportunidade de regularizar a produção da iguaria de maneira decente, coisa que a França, por exemplo, já fez há tempos. Detalhe: No Brasil, temos apenas três produtores de foie gras. Não me parece assim desafio tão grande chegar a um consenso.
Principalmente se comparado à quantidade monumental de antibióticos aplicados em frangos para estimular seu crescimento. Isso pra ficar em um só exemplo. Não é óbvio que as grandes indústrias alimentícias representam problema muito mais relevante à cidade?
Recentemente, Arnold Schwarznegger, o Governador do Futuro, proibiu arbitrariamente a comercialização da iguaria na Califórnia. O que os restaurantes fizeram? Começaram a “dar de brinde” o foie gras, no consumo de uma (cara) taça de vinho.
Toda proibição gera tráfico. E o que é proibido pode se tornar perigosamente mais divertido. Uma das ideias mais estúpidas do século passado, a Lei Seca, já provou isso há certo tempo.
O consumo de foie gras é prática milenar desde o Egito Antigo, e seu consumo tem sido aperfeiçoado com o tempo. Seria uma boa a cidade não entrar na contramão da história gastronômica mundial graças ao capricho de um vereador que, claramente, parece não saber o que está fazendo. Com todo respeito, ideal seria que o Estado não interferisse em certas questões. Minha sugestão: acha cruel o processo de engorda do pato? Simples, não coma. Ninguém tem nada a ver com isso.
Da mesma maneira que eu não abro mão de comer o meu. Ato que prefiro fazer legalmente, com toda higiene, comprando de um fornecedor que gera riqueza para o estado, inclusive.
Por fim, proponho um trato ao vereador: ele não se mete no meu pato e eu não o incomodo no sacrifício da galinhada.
Fechado?