É uma alegria quando recebo uma carta que diga respeito a meu pai. Ele parece se reerguer diante de mim, trinta anos depois de sua morte. Papai foi um grande jornalista – e também um professor excepcional de literatura e de jornalismo.
Ficava na classe sempre de pé, um cigarro nas mãos. Falava de escolas de literatura e citava trechos de poema ou romances sem consultar nenhum livro. Olhava para baixo antes de falar, como que buscando as palavras certas. É um gesto que acabei herdando, e que muitas vezes foi confundido com timidez ou fraqueza. Jamais se afastava dos óculos pretos de aros grossos, que fiz questão de colocar nele no caixão. Não conseguia reconhecer meu pai sem os óculos.
Papai tinha uma maneira peculiar e totalmente pessoal de avaliar as obras de seus alunos, como mostra o relato de um deles., que coloco no pé deste artigo O Ceneart de que ele fala, tão caro em minhas memórias embora jamais tenha estudado lá, é o Raposo Tavares, de Osasco.
Papai, mamãe e minha tia Teté, a Miss Ceneart por merecimento, lecionaram lá durante anos, e fizeram entre os professores amigos queridos dos quais lembro com saudade, como Helena Pignatari, professora de história. Mais tarde ela seria uma companheira de pôquer inesquecível com sua raiva do dez, que chamava com desprezo de “tísico”, e sua predileção pelo rei, “o barbudão”.
O depoimento:
Paulo, seu pai foi meu mestre no 3º científico no CENEART em 1968. Magnífico! Certa vez pediu que os alunos dissertassem sobre a preguiça. Um aluno de nome Hidekazu (hoje deputado federal pelo rstado do Paraná, reeleito várias vezes), entregou o trabalho em branco. Somente ao final escreveu: “Isto é a preguiça, estou com ela”. O Mestre Emir deu-lhe nota 10. O aluno indagou: “Professo,r eu tirei 10?” A resposta foi: você não tirou 10. Eu é que lhe dei 10 pela sua criatividade e porque voce realmente é um preguiçoso.