Durou — o quê — um mês e meio a fantasia de que Michel Temer montaria um “ministério de notáveis”.
Segundo o Estadão, seguido de outros órgãos oficiais da república do impeachment, seria uma equipe enxuta, encabeçada por pessoas de “notório saber” e “amparada por uma base parlamentar superior a 70% do Congresso Nacional.”
Não será enxuta e muito menos notável. O balcão de negócios aberto há meses pelo alto comando do golpe tem acertos a fazer porque não existe almoço grátis.
Na manhã de terça, dia 3, o presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, aceitou o convite para assumir o Ministério da Ciência e Tecnologia em caso de impedimento.
Pereira é bispo licenciado da Igreja Universal, dona do partido. No Facebook, escreveu o velho blablablá de que estava disposto a fazer um “sacrifício pessoal” para “as reformas necessárias”.
“Tentamos por diversas vezes sentar à mesa com Dilma para discutir o Brasil, mas não fomos ouvidos, assim como outros aliados. Isso é público”, diz ele, como numa espécie de justificativa.
Sob Dilma, o PRB ocupou as pastas da Pesca e do Esporte. Foi a bancada que mais cresceu nesta legislatura, com 22 parlamentares na Câmara e um no Senado (Marcelo Crivella).
Há dias, Temer já havia gravado um vídeo ridículo com o pastor picareta Marco Feliciano, em que pede para os fieis rezarem por ele mesmo (“se me permite”). Pereira está no Pacote Crente.
Aos 44 anos, ele é advogado e técnico em contabilidade, o que é uma vantagem competitiva no meio evangélico. Virou pastor da Universal em 1992 e, em 1999, bispo. No Grupo Record, foi vice-presidente de relações institucionais, entre outras funções.
Numa entrevista para Fernando Rodrigues, explicou que diabo significa sua licença do bispado. “Na Igreja Universal, todos os pastores ou bispos que deixam de oficiar as funções religiosas em tempo integral, eles se licenciam.” O sujeito “não tem mais aquela responsabilidade de gestão de um templo ou de uma região”, mas “permanece nos quadros com atividades extras”.
O provável futuro ministro da Ciência e Tecnologia é autor de um texto ignóbil sobre os “kits gays” que circulou amplamente em 2012, na campanha em que Celso Russomanno, do PRB, enfrentou Fernando Haddad.
Ele foi publicado no site de Edir Macedo e apagado depois de uma resposta de Odilo Scherer, cardeal de São Paulo. Pereira ajudou a organizar um exército de “obreiros visitadores” para entregar essa ladainha.
Reproduzo alguns trechos:
“Estamos vivendo a política da catequização da Igreja de Roma e, por isso, certamente, estamos vivendo os últimos dias. Dias que minha querida avó jamais imaginou viver. Um tempo em que, por anos a fio, os ‘poderosos de púrpura’ de Roma têm controlado a educação em nosso País.
Dias de absurdos e depravações. Dias em que filhos e netos chegam à escola e recebem “kits” distribuídos pelo próprios professores lhes ensinando como serem gays ou como optarem por serem gays. É este o programa “educacional” que o Ministério da Educação planeja adotar nas escolas públicas do nosso Brasil, sem sequer perguntar aos pais se eles concordam ou apoiam a iniciativa.
Simplesmente nos impõem a ditadura das minorias. Isso mesmo: a ditadura das minorias!
Estamos vivendo dias em que as minorias impõem à sociedade seus “valores e caprichos”. Não há outra explicação. Obrigar os menores brasileiros a estudarem um suposto material didático que incentiva a prática da homossexualidade e entenderem isso como algo normal, é, sem dúvida, a imposição da ditadura das minorias. Pior que fazem isso com a ilógica tese da política de conscientização contra a homofobia ou contra a discriminação das preferências sexuais.
Imagine seu filho ou sua filha chegando da escola e dizendo, com toda a inocência de uma criança, que decidiu ser homossexual após assistir a um vídeo na escola? Qual seria a sua reação? Você aceitaria essa situação com tranquilidade e de forma normal?
Provavelmente não! Certamente que não!
(…)
As autoridades já impuseram a nós, brasileiros, o ensino religioso nas escolas públicas. A Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, por exemplo, acabou de votar a criação de 600 cargos para professores de ensino religioso. As contratações custarão aos cofres públicos mais de R$ 15 milhões, dinheiro dos impostos que você, eu e toda a sociedade pagamos rotineiramente.
Agora, tentam nos impor os famigerados “kits gays”.
Até quando o Vaticano terá o controle das ações do governo, seja federal, estadual ou municipal?
Até quando o Brasil do século 21 continuará se curvando às “batinas púrpuras” de Roma?
Precisamos salvar o Brasil e torná-lo um país verdadeiramente laico, completamente livre da influência da religião.”
Deus é pai.