O MPL descobriu a fórmula da manifestação bem sucedida

Atualizado em 12 de julho de 2013 às 12:39

Sem o endosso do movimento, a coisa se esvazia ou fica patética.

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A cada dia de novos protestos, fica mais claro: o MPL é o detentor da fórmula do amálgama das insatisfações sociais. Quando ele não assume o papel de comandante, a coisa vira facilmente fumaça.

É na página do Movimento Passe Livre no Facebook que as pessoas procuram qual manifestação estarão apoiando.

Na semana passada, entrevistei Caio Martins, um dos líderes, durante ato multitemático ao qual disse estar apenas oferecendo apoio, porém “pontualmente”. “Apoiamos as pautas todas, até porque uma delas continua o Tarifa Zero, presente também hoje aqui. É uma jornada de luta que ainda está em construção”, disse.

Ontem, o MPL protagonizou o protesto contra o monopólio da mídia. Fez-se muito barulho em frente à Rede Globo. Um “raio laser” foi disparado contra  o rosto do apresentador Carlos Tramontina durante o SPTV. Perguntei a Mayara Vivian, do MPL, se essa causa eles abraçariam para valer. A posição, segundo ela, é manter o foco na questão do transporte, apoiar algumas outras manifestações, mas tudo “pontualmente”. “Se estivermos de bobeira, iremos, senão, não”, afirma.

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Ficou nítido na semana passada, quando vários protestos se cruzaram na avenida Paulista na mesma hora, que todos buscavam a proximidade e o endosso do MPL. Queriam o apoio e a chancela do movimento. Com ele como maestro, a possibilidade de se criar algo de porte e com foça aumenta consideravelmente — também pela presença dos chamados black blocs (ontem, eles formavam a linha de frente. O black bloc não é um movimento ou grupo, mas um comportamento de desobediência adotado por anarquistas. Na prática, significa alguma depredação contra “instituições opressivas”).

Sem o Movimento Passe Livre no leme, surgem essas centenas de micro-protestos inócuos e obsoletos. O “povo” que aderiu e engrossou a massa nas primeiras manifestações não se sente representado por mais ninguém que esteja querendo se eleger como mestre-de-cerimônias.

Só o MPL demonstra força para reagrupar as pessoas com legitimidade. Só quando o MPL está lá na frente puxando sua faixa negra com a banda logo atrás é que se tem um grupamento de gente  engajada. Só o MPL pratica ações inteligentes como a que vi ontem, ao aplicar uma camada de acetato sobre os relógios de rua com a inscrição “Ocupe a mídia” ou rebatizar a ponte Jornalista Roberto Marinho para Jornalista Vladimir Herzog. É isso o que o “ativista de Facebook” quer ver na rua para sair do sofá e enfiar-se na multidão. Essa é a linguagem certa.

Ninguém que pertença ao perfil das manifestações que dobraram Haddad e Alckmin com relação aos 20 centavos, irá caminhar na Paulista ao lado de pessoas que receberam cachê ou, nem se fale, de reacionários pedindo o fim do comunismo. Tudo balela, tudo jogo de faz-de-conta.

O MPL tem a força. O que seus integrantes farão com isso? “Uma coisa é certa: nunca seremos um partido político”, diz Mayara.