O ódio às mães na briga de Militão e Karoline pela guarda da filha. Por Nathalí

Atualizado em 17 de julho de 2024 às 13:26
Karoline Lima e Eder Militão

Toda oportunidade de falar sobre a condição das mães na sociedade – ainda pior do que a condição das mulheres em geral – deve ser aproveitada, porque a gravidade da questão jamais foi contemplada no debate público.

Eis, infelizmente, mais uma: o jogador de futebol Eder Militão, em mais um episódio de perseguição à sua ex-mulher Karoline Lima, resolveu pedir a guarda da filha na justiça.

Se ele conseguir seu intento – e há uma chance considerável de que isso aconteça – a criança de apenas dois anos será arrancada dos braços da mãe e levada para a Espanha, onde o jogador vive.

Detalhe: a mãe da criança precisou encarar uma grande disputa judicial pela pensão da filha, o que significa que Militão tem tanto apreço pela menina que se recusou a sustentá-la materialmente sem que a justiça o obrigasse, nunca tendo, também, participado ativamente da vida da filha durante a gravidez de Karoline, tampouco no pós-parto.

Para além da indulgência (e autoindulgência) de tantos pais que simplesmente não se importam com as necessidades dos filhos, há uma questão ainda mais delicada: muitos pais usam os filhos (nesse caso, um bebê), como forma de provocar o ex-conjuge, muitas vezes por ódio do que não foi resolvido no relacionamento.

Sim, sabemos, isso se chama alienação parental, mas há também, não surpreendentemente, um certo machismo no cerne da questão.

Eu explico: o argumento de Militão na justiça para arrancar a criança da própria mãe, que sempre lutou para suprir as necessidades da filha enquanto ele simplesmente não dava a mínima, é que a ex foi vista se divertindo em baladas e por isso não é “uma mãe de se orgulhar”.

Quer dizer: o cara vive na esbórnia, se nega a ajudar a sustentar a própria filha e ainda se sente no direito de condenar moralmente uma mulher por simplesmente se divertir.

Isso tem a ver, é claro, com o lugar das mães na sociedade: um lugar de castidade e auto sacrifício.

Uma boa mãe também precisa se divertir. Todo ser humano precisa de um tempo para si, e agir como se as mães tivessem obrigação de sacrificarem cada hora de suas vidas pelos filhos (enquanto o pai pensa que ser pai é só pagar pensão) é, sim, desumano.

Mães são, antes de tudo, mulheres. Seres humanos com necessidades individuais.

O pior de tudo é que, nessa perseguição machista à ex, Militão sequer pensou na criança, porque não se importou em usá-la para atingir a mãe.

Ele quer que a criança mude de país e veja a mãe nas férias, e não precisa ser psicóloga pra entender que isso geraria um trauma grave em uma criança separada da própria mãe.

Fica nítido – talvez não para o juiz do caso – que esse “pai” não quer cuidar da filha, quer punir a mãe.

É fato que desqualificar uma mãe no judiciário brasileiro é tarefa fácil: mostrar algumas fotos da mulher se divertindo é, muitas vezes, suficiente.

Isso porque ainda hoje os mais conservadores lêem qualquer comportamento feminino como moralmente condenável, inclusive uma simples diversão.

Mães também podem se divertir (e continuarem sendo boas mães). No dia em que a sociedade entender isso, as crianças estarão à salvo. Caso contrário, muitos “Militões” as traumatizarão.

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