O papa avisa que não é marxista, investiga um bispo do Ceará e mostra que é mais pragmático que programático

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:06

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Numa entrevista ao jornal italiano “La Stampa”, o papa foi questionado acerca das críticas que recebeu dos ultraconservadores americanos. Eles se sentiram ultrajados ao ver Francisco criticar o capitalismo em sua última exortação, Evangelii Gaudium. Um líder do Tea Party afirmou que “Jesus Cristo está chorando no céu ao ver que cristãos estão adotando uma filosofia socialista que criou sofrimento e pobreza ao redor do mundo”.

O jornalista Andrea Tornielli perguntou qual era a sensação de ser chamado de “marxista”?

“A ideologia marxista está errada”, disse o papa. “Mas eu conheci muitos marxistas na minha vida que eram boas pessoas, então não me sinto ofendido”.

“A parte mais forte da exortação é quando ela se refere a uma economina que ‘mata’”, continua Tornielli.

“Não há nada na Exortação que não possa ser encontrado na doutrina social da Igreja. Eu não estava falando de um ponto de vista técnico, o que eu estava fazendo era pintar um quadro sobre o que está acontecendo. A única citação específica que usei foi aquela que menciona as teorias que presumem que o crescimento econômico, encorajado pelo livre mercado, vai inevitavelmente trazer mais justiça social e inclusão para o mundo. A promessa era de que, quando o copo ficasse cheio, ele iria transbordar e beneficiar os pobres. Mas o que acontece, ao invés disso, é que, quando o copo está cheio, ele magicamente se torna maior e nada chega aos pobres. Esta era a única referência a uma teoria específica. Eu não estava, repito, falando de um ponto de vista técnico, mas de acordo com a doutrina social da Igreja. Isso não significa que eu seja um marxista”.

Chamar Francisco de “marxista” é palhaçada paranóica. Com sua agenda e a pregação contra a desigualdade social, ele obliterou completamente seu antecessor, Bento XVI. A opção pelos pobres está declarada desde o início de seu papado. Ele anda num carro dos anos 80, recusou o Palácio Apostólico e está tentando moralizar o Banco do Vaticano. Um homem prático.

Num sermão em novembro, disse o que Jesus faria com um corrupto que rouba dos pobres. Citando São Lucas: “Seria melhor para ele se colocasse uma pedra ao pescoço e fosse atirado ao mar’. Em sua administração, já afastou o alemão Franz-Peter Tebartz-van Elst, apelidado “bispo do luxo”, de Limburgo, depois de ele gastar 35 milhões de euros na construção de sua casa (a obra incluía uma banheira de 15 mil euros).

Agora um bispo brasileiro está sendo acompanhado de perto. Dom Fernando Panico, do Crato, no Ceará, é acusado de vender casas da diocese num esquema. Responde por estelionato e formação de quadrilha.  Panico esteve com o papa em outubro, oficialmente para discutir a “reabilitação canônica” do padre Cícero e a beatificação de Benigna Cardoso da Silva. Fontes no Vaticano afirmam que o papa estaria analisando o que fazer com Panico.

Francisco é mais pragmático do que programático.