O empresário Paulo Marinho enviou carta a Flávio Bolsonaro no ano passado, quando o afastamento entre eles parecia irreversível.
Marinho apontou os erros da estratégia de defesa e comunicação da família Bolsonaro.
A longa mensagem, enviada por WhatsApp, foi reproduzida hoje pela coluna Mônica Bergamo.
É reveladora do modo de operação de Bolsonaro e filhos.
Eles não têm amigos. Funcionam como uma máquina de moer quem tem a ilusão de ser aceito como aliado.
O que diz hoje Paulo Marinho talvez diga, no futuro, Fabrício Queiroz — se é que já não diz.
Ao ser preso, Queiroz teria afirmado ao policial Nico Gonçalves que se sentia aliviado.
Pode-se concluir que ele já se considerava prisioneiro, com Fredereick Wassef na condição de carcereiro.
Para se libertar por completo, Queiroz precisa tirar do arquivo o que sabe sobre Bolsonaro.
Paulo Marinho está fazendo isso, e, ao que parece, com gosto. E o empresário não deve saber sobre Bolsonaro um centésimo do que sabe Queiroz.
Leia a carta que Paulo Marinho enviou a Flávio Bolsonaro:
Tentei contato com você através do seu WhatsApp para lhe pedir um encontro onde pudesse conversar olhando nos seus olhos. Como você não me respondeu, escrevo-lhe essa mensagem para deixar aqui registrado o que gostaria de ter lhe dito pessoalmente. Soube através do Léo, nosso amigo em comum, que vc atribui a mim as notícias vazadas à imprensa, que eu supostamente estaria fazendo isso para conspirar contra você, pois pensa que eu possa ter algum interesse numa eventual ausência sua no Senado. Tudo isso é mentira, tudo isso é fruto da síndrome da conspiração de que você e sua família padecem.
Gostaria de lembrá-lo, pois sua postura demonstra esquecimento, que nunca lhe pedi nada, nem a você e nem ao seu pai. Pelo contrário, quem me pediu ajuda recentemente e durante a campanha, foi você. Aliás, só fiz ajudar. Convém lembrar, que foi você quem me ligou, convidando para ser o seu suplente!
Você me procurou recentemente na minha casa em companhia do seu advogado Victor Granado, para me pedir ajuda e orientação logo após o caso Queiroz ter vindo a público. Não medi esforços e em menos de 24 horas após nosso encontro juntei uma equipe de advogados de alto nível, que passaram a se ocupar do caso. Fizeram reunião presencial com o Queiroz e naquela ocasião foi desenhada uma estratégia jurídica para a condução do assunto, tudo isso foi testemunhado pelo seu advogado Victor que esteve presente em todos os encontros, inclusive na reunião que eu organizei em São Paulo, no hotel Emiliano. Cabe registrar aqui que todas as despesas, inclusive de passagens aéreas, foram pagas por mim, sem nunca ter lhe solicitado nenhuma contribuição.
Logo após a cerimônia de diplomação no TJ, você veio ao meu encontro no restaurante Esplanada em Ipanema para me informar que você e seu pai tinham decidido contratar outro advogado que iria cuidar do caso e você me pediu que dispensasse o esquema jurídico que tinha sido sugerido por mim, e assim foi feito. Uma semana após esse nosso encontro, você me telefonou preocupado com a escalada do noticiário sobre o assunto, especialmente em relação às notícias veiculadas pelo grupo Globo de comunicação. Eu lhe sugeri que você deveria procurar melhorar o seu relacionamento com a imprensa, dando as sua explicações. Promovi um encontro seu com o diretor de jornalismo da Rede Globo Ali Kamel na minha casa, para que você pudesse expor a ele as suas razões e preocupações. Ele foi cordial e direto, e disse que você teria sempre espaço para dar a sua posição. Depois disso fiz vários contatos com jornalistas com quem mantenho relacionamento de confiança, para asseverar a sua inocência que de fato acredito.
Diante de tudo isso, é realmente reveladora sua ingratidão, sua e de seu pai. Cedi minha casa durante meses, envolvi minha família e meus amigos num projeto que considerava ser o melhor para o Brasil. Dei minha cara a tapa por vocês e, além de não receber um simples obrigado, ainda por cima sou tachado de traidor? Como assim? Baseado em que? Porque sou bem relacionado? Meus relacionamentos ajudaram a salvar seu pai – graças ao trabalho do meu amigo advogado Dr. Antônio Pitombo, ele hoje é presidente. Se você tivesse me ouvido depois que veio na minha casa aflito e pedindo ajuda, e seguido a estratégia montada pelo Pitombo para proteger não só a você mas toda sua família, também não estaria na situação – totalmente evitável – que se encontra hoje. Obviamente você está mal assessorado e mal informado. Está tudo errado!!
Pare com essa síndrome de conspiração infundada e auto-destrutiva. Tudo que tem acontecido até agora, é 100% culpa da falta de habilidade em comunicar e de compreender o papel de cada um de vocês na história do nosso país.
Flávio: tenho 67 anos, o dobro de sua idade, já vivi e vi muito! Graças a Deus fui afortunado com uma família maravilhosa, amigos da vida inteira, minha vida está resolvida. Trabalho desde os 12 anos de idade, mas nunca trabalhei, fiz negócios ou precisei de governo. Como cidadão, sempre fiz questão de participar e tentar ajudar aonde pudesse, até muito antes de você nascer.
Reflita bem, coloque a mão na sua consciência, veja se está como gostaria de estar e perceberá que o caminho que você escolheu, está te levando na direção errada. Ainda há tempo.
Me despeço cordialmente,
Paulo Marinho