O pesadelo da água engarrafada. Por José Eduardo Mendonça

Atualizado em 12 de março de 2016 às 21:15

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A cada ano, consumidores, mil deles por segundo apenas nos EUA, gastam 210 bilhões de dólares no mundo para comprar um produto a preços extorsivos Apenas no caso dos EUA, se todas as garrafas de plástico compradas em uma semana fossem enfileiradas, dariam para circular cinco vezes o planeta. E mais: sua produção, naquele país, queima petróleo suficiente para alimentar por ano uma frota de um milhão de carros.

Com a chamada demanda fabricada de corporações multinacionais como PepsiCo, Coca-Cola ou Nestlé, que dominam o mercado, incute-se na mente do consumidor a “necessidade” ou a conveniência de seu uso Participam ainda milhares de pequenas e médias empresas que se beneficiam da divulgação destes conceitos.

Apenas nos Estados Unidos, mais da metade da população bebe água mineral, o que responde por mais de 30% das vendas de refrescantes ou alimentos líquidos, ultrapassando de longe o consumo de leite e cerveja combinados. Esta água engarrafada é tão potável, e por vezes menos, do que a encontrada em casa. As gigantes têm penetração variada em mercados diferentes. No caso brasileiro, ela ainda é pequena. Não chega a 10%, ficando o restante pulverizado, mas a concentração na mão das grandes companhias avança com rapidez.

Dados da Associação Internacional de Águas Engarrafadas indicam que o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking mundial de produtores. Consome mais água engarrafada que países como Itália, Alemanha, França e Espanha. E fica atrás dos Estados Unidos, México (que crescem, em média, 8,5% ao ano) e da China, cuja demanda aumenta 17,5% a cada ano.

Em nosso país, até o final da década de 1960, a produção e venda de água mineral tinham um crescimento linear e pouco expressivo. A ruptura deste padrão começou a ocorrer em 1968, quando se lançou no Distrito Federal o garrafão de vidro de 20 litros, usado principalmente dentro de empresas e instituições públicas. Em 1972 começou a conquista do consumidor fora delas, com a aparição das garrafinhas plásticas. Este foi o ponto de partida da passagem do mercado para a esfera corporativa.

Aí entram os grandes players, que educam a sociedade sobre o temor e a insegurança do consumo da água de torneira – seu maior temor é que a população perceba que o grau de pureza e salubridade do líquido que sai dela são de maneira muito geral equivalentes aos da água engarrafada. Com grandes investimentos em marketing, vendem esta “demanda fabricada” a um consumidor que carece de informação. Sobra para quem compra uma crença quase irremovível no discurso do mercado..

Felizmente, tanto consumidores quanto autoridades estão percebendo o engodo. Cidades em vários países proíbem a venda do produto ou estimulam as pessoas a encher suas garrafas (não de plástico) na torneira antes de sair de casa, o mesmo devendo ser feito com os garrafões usados em casa ou no escritório.