Por Milton Blay
O poste-geral da República, que em respeito ao Estado Democrático de Direito não merece ser nomeado, tentou pela enésima vez dar uma de d’Artagnan e, no melhor estilo de Alexandre Dumas, sair em defesa do ocupante do Palácio. Da mesma forma que os mosqueteiros, cumpriu sua missão cegamente, em desafio da lógica e da lei, para proteger o seu monarca. Se o autor, pai ou filho, estivesse vivo, certamente escreveria uma nova obra-prima ressaltando o heroísmo malsão do PGR.
Desta vez, o inominável n°2 vestiu capa e espada e desafiou 220 milhões de habitantes do Reino da Mentira, que acompanharam os crimes durante meses a fio, ao vivo, denunciados e confessados pela televisão. Todos viram os horrores cometidos pelo monarca absoluto, todos menos um: o famoso poste.
Vamos ao enredo: o relatório final da CPI da Covid (vocês se lembram?) imputou ao rei (inominável n°1), com abundância de provas, nove crimes: charlatanismo, infração de medida sanitária, emprego irregular de verbas ou rendas públicas, epidemia com resultado de morte, prevaricação e até falsificação de documentos. Jornais do mundo inteiro seguiram os eventos e concluíram: agora o presidente fascista está perdido!
Era sem contar com o mosqueteiro-mor. A testa de ferro do magistrado, vice-procuradora-geral Lindôra Maria Araújo teve desfaçatez extrema de pedir o arquivamento das investigações contra o presidente e seus aliados, como ministros, ex-ministros e familiares. Para quem tem memória curta, vale a pena lembrar que Lindôra foi aquela que arquivou o pedido de investigação do inominável n°1, suspeito de crime de saúde pública por não usar máscara no contato com seus súditos. Para tanto, Lindôra explicou que a eficiência da máscara na prevenção da Covid não estava provada. Ao agir da sorte, como uma cientista negacionista, provocou incontáveis críticas, até mesmo de seu chefete, que alegou se tratar de uma magistrada jovem, iniciante, antes de nomeá-la vice PGR.
Agora, ficou evidente que o inominável n°2 a utilizou como testa de ferro, termo aliás lembrado pelos senadores da CPI que protocolaram no STF um pedido de abertura de inquérito contra Lindôra, sob acusação de suspeita de prevaricação.
Os senadores foram além, solicitando que o PGR se manifeste diretamente sobre os casos ou que os autos sejam enviados ao Conselho Superior do Ministério Público Federal, prova de que perderam o resquício de confiança na sua atuação.
A atuação do atual PGR e de seus testas de ferro são claramente políticas. Desde o início evidencia-se uma blindagem ao governo federal. A resposta da Procuradoria foi imediata: A CPI é que teve caráter político.
Brincadeira à parte, fomos tratados como palhaços, inclusive – e talvez sobretudo – os pais, mães, tios, primos, amigos de quase 700 mil mortos, muitos dos quais ainda poderiam estar entre nós se houvessem menos crápulas em Brasília.
Jair Bolsonaro e Augusto Aras, como já disse num artigo anterior (que me valeu uma tentativa de processo da parte do PGR, que não suporta a verdade) são irmãos siameses. O primeiro comete os crimes, o segundo trata de transformá-los em pizza. É um pizzaiolo de primeiríssima.
São de tal forma complementares que recentemente, logo após o discurso sobre o golpe eleitoral dedicado a informar os embaixadores do mundo inteiro, o inominável n°2 esqueceu que o número 1 devia ter saído do Palácio algemado, direto para a Papuda, por crime de traição à pátria. A invés disso, limitou-se a responder em nome do golpista: eu já defendi a urna eletrônica.
Como se isso desculpasse o crime contra a democracia cometido pelo n°1. O que pensa o número 2 no seu foro íntimo só interessa a si mesmo, a mais ninguém.
Amanhã, ou melhor dentro de três meses, ambos (ou as duas metades, como queiram), acompanhados de seus séquitos de picaretas, estarão preparando as malas para deixar o país para todo o sempre ou arrumando uma malinha miúda que caiba na cela onde vão morar.
Tomara que seja assim, pois se não for o caso, é porque o golpe vingou e o Brasil estará mergulhado em mais um período sombrio de uma ditadura fascista, nazista, genocidária.
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