Enquanto o país continua no meio de uma discussão infindável sobre um apartamento no litoral de São Paulo, Michel Temer e seus comparsas operam sem ser incomodados.
“O triplex encheu o saco. Queria comprar, não comprou. Queriam doar, não doaram”, disse o senador Roberto Requião. “Direito, pessoas sérias e o Brasil não suportam mais a palhaçada.”
Um dos efeitos desses três anos de palhaçada é servir de cortina de fumaça para Michel tocar numa boa o serviço para o qual foi contratado.
Num bate papo amigável com amigos do Estadão, entre os quais a inacreditável Eliane Catanhêde, fantasiado de entrevista, MT falou que “tem certeza de que a Reforma da Previdência será aprovada”, explicou sua impopularidade com a balela de que teve “a coragem e a ousadia de enfrentar temas que outros governos não tiveram”, acusou “as pessoas” de não respeitar a Constituição e agradeceu Elio Gaspari pelo “Fica Temer”.
Não foi incomodado com questiúnculas sobre, por exemplo, a reunião que, segundo a delação da Odebrecht, ele comandou pedindo 40 milhões de dólares de propina, sobre o ministério de ladrões ou a economia que não reage.
“O meu principal objetivo é combater o desemprego”, diz o sujeito que está montado em 14,2 milhões de brasileiros que estão nessa situação. “Se não conseguir, aí sim você pode dizer que o governo não deu certo.”
Temer é o menino da bolha de plástico. Surfando nessa sensação de que está bem protegido pelos seus cúmplices na imprensa e no Judiciário, resolveu o problema do desemprego em sua casa: deu um cargo público à babá de Michelzinho.
É seu presente de Dia das Mães a Marcela.
Para que tirar o salário de Leandra Brito — o nome da moça — do orçamento doméstico se os brasileiros podem pagar? (O patrimonialismo, essa praga nacional).
Segundo Lauro Jardim no Globo, Leandra tem uma sinecura no Gabinete de Informação em Apoio à Decisão (Gaia), “órgão responsável por municiar o presidente da República com dados para a tomada de decisão”.
“Minha função é assessorar dona Marcela e o presidente em toda e qualquer situação”, alegou ela, sem conseguir dar nenhum exemplo do que isso significa.
“Leandra dá expediente no Palácio do Jaburu ou em viagens da família Temer, como na Páscoa, quando os acompanhou para São Paulo, ou no réveillon, quando viajou para uma reserva da Marinha no Rio de Janeiro. Recebe R$ 5.194 mensais, fora as diárias referentes às viagens”, relata a nota.
Temer, como sempre falando as maiores barbaridades como estivesse jogando dominó com seus parentes do interior, garante que Leandra é uma pessoa por quem seu filho de 8 anos “se afeiçoou” — como se isso explicasse qualquer coisa.
Esse é o legado de Michel, encapsulado numa lição que ele dá ao filho em sua casa: como se apropriar do estado brasileiro misturando o público e o privado.