As redes sociais me lembram que, há sete anos, Viviane Senna proferiu a seguinte declaração: “O Ayrton representava todos os trabalhadores do Brasil que acordam cedo para trabalhar e matam mil leões por dia. Não é de graça, não é fazendo greve que se conquistam as coisas”.
É um truque velho. João Doria (lembram dele?), a quem Viviane Senna estava afagando com seu discurso, abusava dele. Seu marketing queria que ele fosse o “João Trabalhador”. Fazia questão de dizer que acordava cedo e dormia pouco. Plantava notinhas nos jornais para exibir que incomodava os subordinados com telefonemas de madrugada.
Nada disso faz um trabalhador. Os trabalhadores em geral acordam cedo, mas não é isso que os define. É o fato de que seu trabalho é explorado, de que sua autonomia é sufocada pela subordinação ao proprietário e a seus capatazes, de que seu tempo não lhe pertence, de que a riqueza que ele produz não está a seu alcance. É o fato de que seus interesses estão em oposição aos interesses dos patrões.
Justamente por isso, o trabalhador sabe, bem melhor do que Viviane Senna, que nada “é de graça”. E por nada ser de graça é que os trabalhadores têm que se organizar, lutar contra os que os exploram e, sim, fazer greves.
Curiosamente, os mesmos que querem entregar diploma de “trabalhador” a burgueses dedicados tentam negar o estatuto de trabalhadores a tantos explorados. São “autônomos”. São “parceiros”. São “empreendedores”. Quanto mais precarizado, quanto mais despido de direitos está um trabalhador, mais ele é incentivado a ser ver como um capitalista em formação.
O objetivo é refrear a luta pela obtenção de direitos e sufocar a solidariedade entre diferentes parcelas da classe trabalhadora – aqueles que têm e aqueles que não têm a proteção de uma relação laboral formalizada.
No Brasil, temos uma situação complexa. Ainda lutamos contra formas de trabalho análogas à escravidão, que atingem muitos milhares de pessoas, tanto na agricultura como na indústria. Temos um histórico de informalidade de grande parte da força de trabalho. Sofremos enormes retrocessos na legislação trabalhista. E precisamos estender direitos aos explorados no novo capitalismo de plataformas.
Por isso, o Primeiro de Maio deve reafirmar a necessidade de muita luta. Temos, pela primeira vez em muito tempo, um governo que inclui setores favoráveis à classe trabalhadora. É preciso reforçar esses setores pressionando por medidas de repressão aos abusos e reforço dos direitos.