O problema do Brasil se chama Bolsonaro e nenhum nome que preste vai permanecer no Ministério da Saúde. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 15 de maio de 2020 às 13:02
Teich e o provável sucessor, general Pazzuello

Nelson Teich pediu demissão do governo Bolsonaro.

O ministro, que havia tomado posse no dia 17 de abril, já estava sendo fritado pelo presidente por não defender o isolamento vertical nem feito a defesa do uso da cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada e que pode levar à morte súbita, por parada cardíaca, como aconteceu com Renan Antunes, jornalista que colaborava com o DCM.

O pedido de demissão foi divulgado depois de um encontro não agendado no Palácio do Planalto.

Jair Bolsonaro já teria até escolhido o substituto. Seria o número 2 da pasta, o general Eduardo Pazuelllo, segundo nota da revista Veja.

De acordo com a publicação, Bolsonaro ficou irritado com a decisão de Teich de não defender a cloroquina nem o chamado isolamento vertical. Teich chegou a falar até na necessidade de lockdown em algumas cidades.

Bolsonaro perguntou a Pazuello se ele aceitaria o cargo, caso Teich saésse, e ele respondeu que sim.

Outro nome cotado é o de Osmar Terra, que é médico, mas nega a orientação científica para enfrentar a pandemia.

A oncologista Nise Yamaguchi também está na bolsa de apostas, por ser uma defensora da cloroquina, como gosta Bolsonaro.

Caso Pazzuelo seja confirmado, será mais um fardado no Esplanada dos Ministérios.

Teich completaria ainda não completou um mês no cargo.

Ele sucedeu a Luiz Henrique Mandetta, também fritado por Bolsonaro.

A demissão chama atenção para a falta de liderança hoje no Brasil.

O país tem um dos piores — senão o pior — desempenho no combate à pandemia. E em meio crise, Bolsonaro troca o comando da Saúde duas vezes.

A revista inglesa The Economist, a mais influente na economia e lida por praticamente todos os grandes líderes mundiais, chama o presidente do Brasil de “Bolsonero”.

A culpa pelo desgoverno na área da Saúde não é, portanto, dos ministros.

É do presidente, um incapaz eleito em 2018 com apoio das instituições da república, como o STF e o TSE.

O STF autorizou a prisão do principal adversário de Bolsonaro. E o TSE, contrariando determinação do comitê de direitos humanos da ONU, indeferiu o registro da candidatura de Lula, que liderava as pesquisas, com mais que o dobro das intenções de voto de Bolsonaro.

Ambas as decisões foram precedidas de declarações ameaçadoras do então comandante do Exército.

Não é à toa que os militares ocupam cada vez mais espaço neste governo.

Bolsonaro é um presidente eleito em 2018, mas não se pode dizer que foi eleito democraticamente. Na democracia, a vontade popular deve ser respeitada, e a vontade popular, expressa nas pesquisas, era eleger Lula.

O Brasil continuará sangrando em meio à pandemia enquanto Bolsonaro permanecer no poder.