Uma carta foi dar direto em minha memória e em meu coração.
Foi mandada por Paulo Andrade, e remete a um certo professor de literatura que ele teve nos anos 60 em Osasco, um homem de óculos pretos e grossos que fazia truques de mágica nas aulas e declamava versos e trechos de diferentes autores sem jamais consultar livro algum.
Emir.
Emir Nogueira.
Aproveitei o feriado e levei meus dois filhos menores ao parque Cidade de Toronto, na grande São Paulo. Passei na rua “Emir Nogueira” e me lembrei do meu professor de português, no CENEART, em Osasco. Era um sujeito alto,sempre de óculos e terno preto. Embora nunca alterasse a voz, os alunos da escola pública faziam silêncio quando ele chegava. Menos por medo e mais por respeito.
Suas aulas, no período noturno, sempre passavam muito rápido. Eram casos contados, fatos históricos, observações, exemplos, truques de mágica. De repente, nós ficávamos fascinados por aquela matéria chata. Quando ensinada pelo Emir, ela sofria uma espécie de metamorfose benigna. Lembro-me dele andando pela sala de aula só de meias e se desculpando. O dia havia sido movimentado no jornal, mas ele adorava ensinar.
Nestes tempos de Internet, tentei matar a saudade do mestre e encontrei seu blog. Caro Paulo. Como não tenho o dom da palavra, a forma que uso para honrar aqueles que me deram formação é ser um cidadão digno e dedicado. Vez ou outra conto para os filhos o caso de um certo professor que recebeu uma ligação do governador, durante a madrugada, para tirar uma dúvida de português. Heroi injustamente anônimo, mas grande, mesmo assim. Valeu, Emir.
Emir Nogueira era meu pai. Modéstia à parte.