Republico um texto de junho de 2013 porque o objeto dele, Marco Antonio Villa, voltou aos holofotes depois que viralizou o vídeo de um bateboca entre ele e Airton Soares num telejornal da Cultura.
Não tenho grandes expectativas em relação à academia brasileira, mas mesmo assim me surpreendi ao ler um artigo sem nexo na Folha, nas eleições de 2010, e ver que o autor era professor da Universidade Federal de São Carlos.
Pobres alunos, na hora pensei.
Não conhecia o professor Marco Antonio Villa, historiador não sei de que obras. No artigo, depois de ter entrado na mente de Lula, ele contava aos brasileiros que a escolha de Dilma se dera apenas para que em 2014 Lula voltasse ao poder, nos braços da “oligarquia financeira”. Villa, com as asas de suas teorias conspiratórias, voara até 2014 para prestar um serviço à Folha e seus leitores.
Não sei se Villa conhece a história inglesa, mas deveria ler uma frase de Wellington, o general de Waterloo: “Quem acredita nisso, acredita em tudo”.
Minha surpresa não pararia ali. Saberia depois que, graças a seu direitismo estridente e embalado numa prosa com as vírgulas no lugar, Villa virou presença frequente em programas de televisão cujo objetivo era ajudar Serra, notadamente na Globonews sob William Waack.
Mais recentemente, ele participou de animadas mesas redondas no site da Veja sobre o Mensalão. Vá ao YouTube e veja quantas pessoas vêem as espetaculares discussões de que Villa participa ao lado de Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo. O recorde de Psy pode ser batido antes do que imaginamos.
Soube também que ele lançou um livro sobre o Mensalão. Abominei sem ler. Zero estrela de um a cinco.
No site da Veja, ele é presença frequente, para infortúnio de leitores que se desinformam espetacularmente com suas opiniões. Vale a pena reproduzir aqui a visão convicta de Villa sobre o MPL nos primeiros dias de protesto. O blogueiro Augusto Nunes fez questão de publicá-la em, acredite, dezesseis pontos que estavam errados do primeiro ao último.
Alguns deles:
1. não é o que pode ser chamado de movimento social, sociologicamente falando;
2. é um ajuntamento de pequenos grupos ultra-esquerdistas sem qualquer importância política;
3. tem uma prática típica de grupos fascistas, são eleitoralmente inexpressivos;
4. a passagem de ônibus virou um eficaz instrumento para as lideranças desses grupelhos dar satisfação às suas inquietas “bases”, cansadas de ouvir discursos revolucionários, negadores da democracia (chamada depreciativamente de “burguesa”), sem que tivessem o que chamam de prática revolucionária;
5. para estes grupelhos, o vandalismo é um excelente instrumento de propaganda. Eles se alimentam do saque, da violência e da destruição do patrimônio público e privado;
6. o poder público não sabe agir dentro da lei para conter os fascistas. Ou se omite, ou age como eles (ou da forma como eles querem);
7. agir com energia, dentro dos limites legais, é a forma correta de conter os fascistas;
9. é evidente a tentativa de emparedar o governador do estado. O prefeito – sempre omisso – não está na linha de fogo;
10. O “movimento” está desesperadamente procurando um cadáver;
11. E como bem disse um comentário, este movimento não vale vinte centavos.
Este é Villa, na sua essência. Este o comentarista que a grande mídia usa incessantemente para deseducar o público.
Passados alguns dias, quando ele percebeu que os que lhe pagam estavam gostando do MPL por supostamente emparedar o governo, ele desmentiu tudo o que tinha categoricamente afirmado. Mais uma vez Augusto Nunes lhe deu microfone em seu blog.
Este movimento tem características que, sinceramente, não encontro paralelo no que li e estudei.
Ora, ele não estudou os protestos de 68 na França? Ou os do Ocupe Wall St? Você pode ver a estatura de Villa ao confrontar suas observações rasas, erradas e giratórias com as do filósofo Renato Janine Ribeiro, num artigo que o Diário publicou hoje.
Villa confunde com seu desconhecimento. Janine aclara com seu conhecimento.
Minha única surpresa em relação a Villa derivou de uma chancela importante de Elio Gaspari, um dos melhores jornalistas que vi em ação como diretor adjunto da Veja nos anos 1980. Ele fez parte da equipe de Elio na elaboração de seu livro “A Ditadura Derrotada”.
Villa, conta Elio, “conferiu cada citação de livro ou documento. Foi um leitor atento e pesquisador obsessivo. Villa tem uma prodigiosa capacidade de lembrar de um fato e de saber onde está o documento que comprova sua afirmação. Ajuda como a dele é motivo de tranqüilidade para quem tem o prazer de recebê-la. Além disso, dá a impressão de saber de memória todos os resultados de jogos de futebol”. Foi o que escreveu Elio.
Uau.
Villa trabalhou com Elio, portanto. Não aprendeu nada?
Não parece. Elio tem uma independência intelectual perante os partidos e os políticos que passa completamente ao largo de Villa e congêneres. Isso lhe dá autoridade para criticar e elogiar situação e oposição, e credibilidade para ser levado a sério.
Villa, em compensação, é fruto de uma circunstância em que se procura desesperadamente dar legimitidade acadêmica a um direitismo malufista. Em outros tempos, Villa – caso acredite mesmo nas coisas que escreve e fala — seria um extravagante, um bizarro, imerso num mundo que é só só seu. Você poderia imaginá-lo jogando dardos num pôster de Lula.
Nestes dias de confronto, é um símbolo de como alguém pode chegar aos holofotes e virar “referência” falando apenas o que interesses poderosos querem ouvir.
As “referências” gozam de impunidade torrencial. Podem, como Villa, errar sempre que não serão cobrados. Continuarão a ser procurados para espalhar sua ignorância cínica — comprada pelo 1% como vil mercadoria.