Eles pararam a marginal Pinheiros e queimaram exemplares da Veja.
(FOTOS MAURO DONATO)
Eles se dizem a tropa de choque dos manifestantes. Com integrantes das comunidades Black Bloc Zona Sul, Black Bloc SP, Black Bloc ZL, Black Bloc Zona Oeste e Black Bloc Zona Norte, cerca de 300 pessoas cercaram a sede da Editora Abril na sexta (23). Tocaram fogo em uma pilha de exemplares da Veja.
Impossível, durante o ato, não me lembrar do filme Fahrenheit 451, de François Truffaut. Porém às avessas. Os restos carbonizados foram arremessados para dentro do prédio, por cima dos capacetes dos policiais.
A revista, em sua última edição, além de manipular uma entrevista com uma integrante do Ocupa Cabral, havia provocado com o trocadilho “caras tapadas” e distorcido definições sobre o movimento black bloc.
Ainda na concentração do protesto de sexta-feira, no Largo da Batata, os black blocs distribuíam um manifesto que ao mesmo tempo justificava o protesto e esclarecia o conceito.
“A revista Veja publicou uma matéria sobre o black bloc (…) numa estratégia de jogar a população contra os manifestantes e colocando medo nas pessoas de irem às ruas para lutar por mudanças no Brasil. Black blocs não são vândalos ou baderneiros, como a mídia quer que a população acredite. As informações são mentirosas e manipuladoras.
O que é black bloc? É uma tática de manifestação formada pelo povo (ressaltamos que não é um grupo, é uma ideia). Antes de tudo, o black bloc luta contra a corrupção e por um país mais justo e igualitário, não possuindo uma organização fixa.
Para fazer parte do black bloc basta estar vestido de preto e ir para frente em momentos de conflito para proteger os manifestantes. Alguns cobrem o rosto para não serem identificados e evitarem possíveis represálias em suas vidas pessoal ou profissional. (…) Os black blocs não iniciam os ataques, pelo contrário, eles se defendem dos ataques iniciados pela polícia que usa bombas de gás e de efeito moral e spray de pimenta. Contrataque somente em último caso, com o intuito de proteger o cidadão da truculência da polícia. Enquanto a maioria dos manifestantes oprimidos corre, os black blocs retardam os opressores ao máximo, fazendo barricadas e cordões de isolamento. É uma tática que zela pela segurança dos demais manifestantes epelo direito constitucional à livre manifestação. (… ) O black bloc faz o papel que o estado não faz que é de servir e proteger o cidadão que luta pelos seus direitos.”
O manifesto critica também a revista Época por publicar informações falsas acerca dos membros do Ocupa Alckmin, que acampam em frente ao Palácio dos Bandeirantes. Condenando uma postura imparcial dessas publicações, alerta o leitor: “Perceba que não se fala nos escândalos dos cartéis do metrô, nas PEC que irão favorecer somente os políticos, nos gastos exorbitantes com a Copa… Enquanto nos rotulam de vândalos por pichar uma parede, os políticos estão quebrando nosso país, sem educação, sem saúde, segurança, transporte de qualidade, além de corruptos estarem soltos.”
E termina:
“De que lado você está? Do lado de quem te oprime e te rouba todos os dias, ou do lado de quem quer te proteger e lutar por um Brasil mais justo? ”
O saldo da noite foi um manifestante preso, outro ferido, dois cinegrafistas contundidos e uma câmera despedaçada. Duas agências bancárias, três carros e algumas pichações podem entrar na conta dos black blocs.