O protesto de Dom Mauro Morelli à intervenção no Rio é eloquente pelo fato de ser solitário.
Bispo auxiliar da arquidiocese de São Paulo e emérito da diocese de Duque de Caxias, dom Mauro foi rápido e certeiro ao apontar a violência do decreto de Temer e suas consequências.
“Discordo de intervenções que aviltam militares e trazem angústia e sofrimento aos pobres, em sua maioria de origem africana. A tarefa constitucional dos militares é outra, também a solução!”, escreveu nas redes.
“Quem não é branco nas noites da Baixada corre risco de vida, tamanho o preconceito da sociedade escravocrata e racista. Se houvesse raça superior, seria a raça negra. Com 300 anos de escravidão e tantos séculos de discriminação, seu gingado é insuperável”.
Continuou: “Alguém contesta meu tweet afirmando que somente os bandidos sofrem com intervenção…santa ingenuidade ou malícia refinada! Não faço discurso teórico ou demagógico. Se o problema do Brasil fosse bandido ou marginal das favelas ou “comunidade”…até que o bicho não seria tão feio!”
Mais tarde, bateu no que a Tuiuti consagrou como manifestoches: “A classe média tem futuro na aliança com os porões e andares inferiores. Cresce quando os de baixo podem subir. Dos andares superiores ninguém desce! Eis o dilema. Pare, olhe e escute. Embarcaram no trem errado.”
Aos 82 anos, ex-integrante da junta jurídica do Serviço Paz e Justiça na América Latina, organização internacional de Defesa dos Direitos Humanos ligada à ONU, Morelli tem um histórico de combate à ditadura.
Fortaleceu a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Esteve à frente da criação do conceito de segurança alimentar como combate à fome e foi um dos articuladores do programa Mutirão de Combate à Desnutrição Materno-Infantil.
Enquanto fala sozinho, a CNBB lança uma nova campanha da fraternidade. Outros setores, como os artistas, seguem em silêncio obsequioso.
Onde está, por exemplo, Caetano Veloso? Onde está a OAB?
O que estão esperando?