Publicado originalmente no site Os Divergentes
POR HELENA CHAGAS
A estratégia do PT de insistir com Lula e seus recursos, usando até o fim o prazo legal substituição por Fernando Haddad, deu um nó na cabeça de muita gente, inclusive de aliados como o PCdoB. Adversários propagam versões de que, na verdade, o partido e seu principal líder não estariam ligando muito para ganhar as eleições presidenciais, pois o objetivo principal continuaria sendo mostrar o martírio de Lula como preso político e articular-se para eleger bancadas e fazer forte oposição ao vencedor – sobretudo a um hipotético governo Bolsonaro. Se esse é o plano, é de uma estupidez absoluta.
Mas tudo indica que não é. E não precisamos nem invocar motivos mais nobres pelos quais o PT poderia desejar voltar ao poder, como a responsabilidade de não abrir caminho a um retrocesso democrático com Bolsonaro ou o propósito de restaurar políticas que redistribuíram renda e tiraram milhões da pobreza. Não. Vamos ignorar isso e pensar o pior, pragmaticamente: por que o PT preferiria não ganhar a eleição com Haddad? Não há explicação razoável, nem do ponto de vista de Lula e nem do partido.
Atribui-se ao ex-presidente um egocentrismo que colocaria em primeiro lugar sua situação jurídica e política e, secundariamente, a candidatura de Haddad – e daí sua suposta resistência em, mesmo cassado pelo TSE, abrir mão da cabeça de chapa. Tal raciocínio subestima a inteligência do animal político Lula. A começar pelo fato de o caminho mais curto entre a cadeia onde está hoje e a liberdade passar pela vitória do companheiro petista. Haddad não hesitaria em anistiar Lula, como inclusive já declarou – coisa que nenhum outro candidato competitivo admitiu fazer até agora.
Mais do que isso, o clima da vitória petista teria muito mais chances de influenciar em decisões do Judiciário favoráveis ao ex-presidente do que o que vai predominar com a eleição de um adversário. Por exemplo, no caso da revisão do julgamento sobre a prisão após condenação em segunda instância pelo STF.
Do ponto de vista do partido, é óbvio que voltar ao Planalto seria fundamental, sobretudo se perder o governo de Minas, que abrigou amplos contingentes de petistas no êxodo pós-Dilma. O PT, como qualquer outro partido, quer espaço, quer cargos, quer empregos, quer poder.
É por isso que, apesar de tudo o que se vem dizendo em meio ao estupefato dos que imaginaram livrar-se de uma candidatura viável do PT há tempos, não tem sentido imaginar que Lula insiste em continuar ocupando espaço eleitoral por razões egoísticas e que considera secundária a candidatura Haddad. Não. Se ele mantém essa estratégia é porque acredita que, quanto mais tempo estiver em cena, mais condições terá de grudar sua imagem à do substituto para conhecimento do eleitorado.
Pode dar certo ou pode não dar. Até agora, surpreendentemente, deu.