Bem, pelo menos mais do que os jovens chineses sabem, como uma tevê mostrou recentemente
O texto abaixo foi publicado, originalmente, no site em inglês da revista alemã “Der Spiegel”, e trazido ao Diário a pedido. Para quem acompanhou a polêmica do kit gay em São Paulo, é particularmente divertido.
O quanto as crianças precisam saber sobre sexualidade? Um novo panfleto causou uma polêmica relativa a essa questão na Áustria. Críticos afirmam que o folheto vai longe demais ao apresentar estilos de vida alternativos para as crianças, mas o editor declara que é só uma reflexão honesta da realidade.
Na semana passada, uma emissora da China executou um experimento provocador. Repórteres levaram suas câmeras para as ruas e abordaram pedestres, perguntando-lhes questões íntimas, tais como: “Como você chegou ao mundo?”
Para aqueles que acreditam no valor da educação sexual, as respostas não eram particularmente animadoras. Uma mulher disse que a mãe lhe contou que a encontrou em uma pilha de pedras. Um homem afirma que lhe contaram que ele apareceu pulando de uma rocha enquanto sua mãe pastoreava cabras. Uma estudante universitária disse que acreditou por muito tempo que havia saído da axila da mãe. Não é surpreendente que o programa originou demandas de maior educação sexual em escolas públicas.
Ainda assim, do outro lado do espectro da instrução íntima há a questão: quanto as crianças realmente precisam de saber? É uma pergunta que agarrou a Áustria nas últimas semanas. Lá, um panfleto para educadores do tópico de educação sexual desencadeou protestos calorosos daqueles que afirmam que isso foi longe demais.
O panfleto, chamado “Ganz schon intim” (“Realmente Íntimo”), é uma publicação de 152 páginas, mansamente ilustrada, que prepara os professores para ensinar as crianças sobre sexualidade. Mas também inclui informações detalhadas sobre masturbação, homossexualidade e intersexualidade, termo que define aqueles nascidos com características biológicas de ambos os sexos.
A publicação sugere que seja ensinado as crianças falar abertamente sobre sexualidade e aprender a identificar seus próprios limites. “Primeiro e mais importante, bom material para educação sexual não deveria meramente consolidar o status quo. Deveria surpreender, inspirar e desafiar”, escreveram os criadores do panfleto, do grupo Selbstlaut, cuja intenção é combater o abuso e a violência sexual. O governo austríaco contratou o grupo para desenvolver a publicação.
Na Áustria conservadora, no entanto, há muitas pessoas que consideram a publicação desafiadora demais. Parlamentares de partidos conservadores a acusaram de “perturbadora” e de “uma afronta aos valores familiares” durante um debate no parlamento austríaco, dizendo que receberam diversas ligações de pais preocupados. Grupos católicos também pediram que a publicação fosse retirada. Críticos disseram que ela iguala relações heterossexuais “tradicionais” às relações com parceiros do mesmo sexo e ataca os valores familiares.
Talvez um aspecto mais legalmente relevante seja que alguns afirmaram que a publicação apresenta o uso de bancos de esperma e barriga de aluguel como soluções possíveis para a fertilidade, embora as duas coisas sejam ilegais na Áustria.
Ainda assim, o governo de Viena e os produtores do panfleto se mostraram impassíveis diante das discussões. “Os conservadores e direitistas sempre viram a educação sexual com suspeita”, disse Harald Walser, membro do Partido Verde. Segundo ele, a cartilha é um passo importante para a luta contra o abuso sexual de crianças. “As crianças acham mais fácil de conversar sobre suas próprias experiências se estão acostumadas a falar com os adultos sobre questões embaraçosas ou sentimentos difíceis”, afirmou ele.
Outros grupos também se mobilizaram, nessa semana, para defender a publicação, alegando que ela somente reflete a realidade da sociedade atual. “Toda essa coisa é bastante amigável e praticável”, diz Olaf Kapella, Instituto Austríaco para Pesquisas sobre a Família, da Universidade de Viena. Ela também disse que os professores do país não são treinados para ensinar a educação sexual na escola, fazendo de um panfleto como “Ganz schon intim” algo particularmente útil e necessário.
Nesse momento, parece improvável que os conservadores irão conseguir tirar o panfleto. Mas talvez ele seja revisado. Kapella observou que algumas melhores poderiam ser feitas, particularmente onde explica e descreve de onde as crianças vem. A lista, ele observa, começa com adoção, e “está em ordem alfabética.” Ele sugere que seria melhor que a lista fosse biológica.