O país ficou em 78_o lugar, atrás de muitos vizinhos — e isso é uma evidência de que o avanço social tem que ser acelerado.
Os leitores do Diário não vão estranhar.
Acaba de sair a lista mundial dos melhores e piores lugares do mundo para ser mãe. O levantamento foi feito pela prestigiosa ONG Save The Children.
O topo é absolutamente dominado pela Escandinávia.
Primeiro lugar: Finlândia.
Segundo: Suécia.
Terceiro: Noruega.
Quarto: Islândia.
Quinto: uma breve pausa para a seminórdica Holanda.
Sexto: Dinamarca.
Alguma surpresa para quem acompanha o Diário? Nenhuma. A Escandinávia, com sua prosperidade igualitária, está sempre na ponta nos indicadores sociais.
Na parte ruim da lista estão, também previsivelmente, países africanos. O Congo é, segundo o estudo, o pior lugar do mundo para ser mãe.
Um apanhado do que é ser mãe na África:
a) Uma em cada 30 mulheres morre de algum problema relativo à maternidade;
b) uma em cada sete crianças morre antes de chegar aos cinco anos;
c) as crianças recebem entre dois anos e no máximo nove anos de ensino; oito em cada dez mulheres provavelmente perderá um filho ao longo da vida.
Agora compare. Na campeã Finlândia, uma criança tem quase 17 anos, em média, de vida escolar.
Por essas coisas somos, no Diário, escandinavos de alma.
E então vamos ao Brasil, e é aquela história de sempre: estamos numa situação medíocre.
Estamos na 78.a posição, exatamente no meio da tabela de 176 países.
Em relação a nossos vizinhos latino-americanos estamos atrás de quase todo mundo.
Cuba (33), Argentina (36), Costa Rica (41), México (49), Chile (51), Uruguai (54), Venezuela (65) e Equador (71), El Salvador (74) – todos eles estão na nossa frente.
São dez anos de um governo de esquerda, e os avanços sociais devem ser aplaudidos, é verdade – mas ao mesmo tempo a sociedade deve cobrar mais velocidade, mais ênfase, mais sentido de urgência.
Há, por trás da baixa velocidade no avanço social, uma clara falta de disposição, e de coragem, de enfrentar privilégios.
Um número conta tudo: em dez anos, a administração do PT colocou 6 bilhões de reais em publicidade na Globo – que faz tudo para retardar qualquer progresso social e manter seus descomunais, abjetos privilégios.
Um outro fato simbólico dessa bizarrice estava estampado ontem na página de um blogueiro da Veja. Seu texto dava uma pancada monumental em Dilma, chamada de tosca e coisas do gênero.
Havia um anúncio na página: da Petrobrás.
É tragicômico.
Se você quer criar um consenso – vital – de que o combate à desigualdade é imperioso para o país, você não pode, evidentemente, manter privilégios de quem luta por todos os meios para que nada se modifique.
Outra situação exemplar se dá na questão dos índios. Eles têm repetido à exaustão uma coisa que provoca engulhos: não conseguiram até agora uma escassa conversa com Dilma.
Os fazendeiros que tomaram, tomam e tomarão terras dos índios, na contrapartida, têm fácil acesso presidencial.
Robespierre escreveu, com imenso acerto, que você não faz revolução sem fazer revolução.
Da mesma forma, você não desmonta privilégios sem enfrentar privilégios.
No plano icônico, para simplificar, é possível dizer: enquanto as Organizações Globo desfrutarem de tantas mamatas é porque alguma coisa não está funcionando.
Não sei qual será a administração que empurrará o Brasil mais efetivamente na direção escandinava, mas, seja qual for, ela vai ter que ter mais coragem para enfrentar o que tem ser enfrentado.
E também tem que ser mais cobrada por quem sente engulhos ao ver tantas favelas – ou por quem se incomoda em ver o país numa posição tão medíocre em listas sociais como esta que diz respeito a nossas mães e a nossas crianças.